Capítulo 9 – A marca da foice
– Cumulus Nimbus... Tenko
Kitsune-bi...
– Finalmente acordou, comenta
Mary Anne acolhendo a raposa no colo.
– Entrei em seus domínios?
– Está dentro do templo. Não
poderia lhe deixar jogado na floresta debaixo daquela chuva. Lilith me mataria
quando soubesse. “E ela não está em condições de ficar se estressando com isso”
Pensou ainda.
– Detalhes.
– Ainda não posso... Aliás, você
também não pode. Não pode desistir de seu caminho agora.
– Quando a presença de Hatsumomo
se foi senti a presença de alguém importante tomando o mesmo rumo. Preciso
voltar verificar, ajudar aquela pessoa.
– Alguém está precisando muito da
sua ajuda, e está bem a sua frente.
– Quem seria?
– Lilith.
– Detalhes. O garoto toma a forma
de garoto e se senta, ainda mantendo as orelhas de raposa.
– Em alguma das lutas com
Hatsumomo Lilith foi ferida por aquela foice. Não foi uma ferida comum, aquela
foice não era comum, e estava pior do que já era antes. Do ferimento brotou um
mal antigo, uma magia negra chamada shi no shirushi.
– Shi no shirushi?
– Sim. “Marca da morte”. Essa
marca é como uma doença, se ela crescer e se completar, Lilith morrerá. O que
precisamos, o que você precisa é descobrir junto com Alexis a cura ou o contra
feitiço, ou algo que a salve. Você parte amanhã ao nascer do sol. É perigoso à
noite com os Luminus se infiltrando no reino.
– Vou agora. Raposas têm boa
visão.
– Tome cuidado. Cautela, porém
urgência. Como você sabe, o rio em meus domínios é o lugar onde se lamenta
pelos mortos. Se não houver acordo com a morte, acabaremos tendo mais alguém
por quem lamentar... Meus domínios não são regidos pela alegria, por isso você
quem precisa fazer isso por ela.
– Explique-se.
–Vá.
–“Lamentar os mortos”... – O
aprendiz faz um gesto com a mão, invocando Kitsu.
– Ora, você não era uma raposa
independente? Diz a raposa ao aparecer
– Se você já está ciente dos
fatos, e sei que está, sabe que não deveria estar arrumando pretexto pra
discutir.
O aprendiz se dirige ao Nefirus,
onde para, se ajoelha e lamenta por alguns momentos a morte de Hatsumomo. Pede
que Lilith não tenha o mesmo destino. Não agora. Acaba até ganhando certa
atenção dos celtamorfos com a oração fervorosa. Além disso, consegue uma breve
conversa com Ácades, o celtamorfo que lhe aconselhara outrora em sua primeira
visita ao local. O conselho dado dessa vez foi “Mantenha seu caminho sem se
importar com nada, mantenha sua escolha sem se importar qual é.”. Depois da
parada no rio os dois partem em direção ao templo do norte. Lá as respostas das
perguntas não são tão animadoras quanto ele esperava.
Capitulo 10 – Conselhos da Matriarca
– A única coisa que purificaria
algo poderoso como aquilo seria uma pena da cauda de uma fênix. E há muito,
muito tempo elas sumiram. Além de que demora muito tempo para preparar uma pena
de fênix adequadamente. Infelizmente, minhas mãos estão atadas. Mas não as
suas: tenho uma missão especial para te dar. Amanhã, mais ou menos a essa hora
estaremos em um grande festival que acontece em Midgard. Quando estivermos lá
você irá entretê-la como se o imperador fosse seu vassalo. Sua sacerdotisa está
com a morte marcada, mas você dará a ela uma morte digna e feliz. Por agora,
descanse aqui. Amanhã você irá ajudar a Louise com os preparativos do festival.
Ouviu as ordens da elfa, depois
resolveu sair do templo e dirigir-se para a floresta. A floresta das Willow.
Anda um pouco por ali, e acaba se deparando com a majestosa e enorme Yggdrasil.
Após uma breve prece ele continua andando por entre as árvores, e em frente à
maior delas faz uma nova parada ao escutar uma voz densa que ecoa por ali.
Vinha da maior Willow da floresta, a que estava diante de seus olhos. Seria uma
árvore comum, se não fosse pelo porte e por vários galhos que se mexiam como se
tivessem vida e mobilidade de dedos. E por certa parte do tronco lembrar um
rosto. Novamente o som da gigantesca árvore ecoa quebrando a contemplação do
garoto.
– Olá filhote. O que você veio
procurar por aqui?
– Paz... Conselho... Algo. Não
sei. Perdão por estar andando por aqui repentinamente e não ter me apresentado,
e peço perdão novamente por não saber quem é você.
– Me chame de Tatsuy. Sou a mais
antiga das Willow.
–Então você seria algo como uma
“vovó Willow?”
– Não me chame assim... Pareço
uma velha desse jeito. Que tal um meio termo. Chame-me de Matriarca ou Tatsuy.
– São nomes interessantes. O
primeiro é poderoso, o segundo é... Exótico.
– Como se você pudesse falar de
nomes exóticos, tuntun. Então filhote, o que você realmente veio fazer diante
de mim? Mergulhado em dúvidas?
– Não acho que seja exatamente
isso Tatsuy.
– Que intimidade... Então, você
veio me dizer que já decidiu o que vai fazer?
– Algo do tipo. Mais
precisamente, vim lhe dizer o que eu decidi. Acho que acabei demorando mais que
o devido pra me decidir. E que tudo acabou influindo nisso. Seria problemático
escolher apenas uma. Pensei em retornar ao frio e á solidão. Continuei
pensando, e me decidi. Não queria que alguém pensasse que era a “alternativa”.
Acho que aos escolher, percebi que mesmo diante de milhares de alternativas, se
a sua alma, sua personalidade e seu desejo não mudar, a escolha não irá mudar.
Não quero mudar a mim mesmo, nem o que escolhi. Ela foi quem eu escolhi.
– Então seria por que “a
tempestade faz um enorme estrado, uma tempestade com uma nevasca faz um estrago
infinitamente maior”?
– Diria que é algo do tipo. É
ótimo fazer grandes estragos.
– É verdade. A tempestade não
depende da chuva para ser tempestade. Ela provoca a chuva. Vire uma nevasca,
não vá contra a natureza dizer que depende da chuva.
– Agradeço pelos conselhos
Matriarca Tatsuy. Algo a mais pra me dizer?
– Ah, sim! Você vai entretê-la,
não é? A sacerdotisa da neve?
– Correto. Alguma recomendação em
relação a isso?
– Atenção total a ela. E cuidado
redobrado. Sinto que a calmaria está para acabar. Se estiver certo de sua
escolha, conte a ela.
– Pensarei nisso com cuidado...
– Descanse agora filhote. Amanhã
grandes coisas vão acontecer. O vento está me contando.
– Agradeço novamente, grande
matriarca. Agora vou olhar o teto, espelho que reflete meus devaneios, até o
que o sono tome conta de meu ser.
– Vá em paz, com a benção de
Lilith, diz a grande Willow ao aprendiz. Este se retira da presença da matriarca
e vai se deitar no chão do templo. Acha algo como um colchonete ao lado,
chamado no Japão de futon. Era de se esperar, considerando toda a fachada do
lugar. Talvez seja apenas um colchonete devido às religiões de lá pregarem
certo apego ao materialismo. O garoto pensou nessa questão, e em muitas outras.
Acabou pensando que ainda estava acordado, mas já estava dormindo. Estava há momentos atrás olhando o teto, que
de certa forma sempre lhe parece um espelho, sempre mostra um resumo do que
aconteceu. As visões da sacerdotisa se mostravam mais nítidas. Porém agora ele
finalmente dormiu. Do nada, assim como qualquer um.
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