Às vezes eu releio umas reflexões que escrevi no meio do livro e simplesmente me pego pensando. "Como eu escrevi tudo isso há 3, 4 anos atrás e agora vivo empacado?". Acho que eu preciso voltar a acreditar nas minhas raposas. As memórias de um aprendiz sempre podem ser revividas graças à cada um que as lê. Fico feliz que seja você quem as reviva nesse momento. Não é que elas se tornem reais. Elas sempre foram, mas você as faz se relembrarem disso. Até o próximo capítulo!
O aprendizado é um universo em inconstante expansão, e o livro de memórias está aberto. A fronteira entre realidade e magia foi derrubada, ficou nas memórias de um aprendiz.
Aprender a escrever...
Aprender a escrever só se faz escrevendo. E só aprendemos bem aquilo que para nós tenha poesia.
domingo, 4 de maio de 2014
Projeto - Parte 2, Capítulos 7 e 8
Capítulo 7 – Punição dupla
O aprendiz paralisa diante das
palavras da sacerdotisa, e Hitch toma a palavra.
– Ela estava premeditando isso há
muito tempo, e você sabe. Só não sabíamos que alguém de seu nível seria pega
tão rapidamente por uma armadilha óbvia como essa.
– Dane-se, sua meretriz. Ceifarei
suas almas, e a liberdade virá.
– Infelizmente, o quadro ainda é
pior, diz Yumi aparecendo em frente ao quarteto (as gêmeas sumiram quando atingidas
pela magia)
– Se não tens algo mais belo que
o silencio a dizer, cale-se, retruca Raitun.
– Não é belo o que tenho a dizer.
Além de tentar lhe matar várias vezes, e tentar fazer o mesmo com pessoas do
reino, ela traiu o nosso reino servindo de espiã para os Luminus. Levava informações
de nossas tropas e afins.
– E a punição para seus crimes...
– É a morte.
O aprendiz se dirige á porta, em
forma de raposa.
–Não concordo com a morte dela,
ou com mortes de pessoas próximas, aliadas ou outra qualquer. Algumas delas
acontecem, outras são “necessárias”... Não concordo, porém um mero aprendiz não
pode fazer nada contra as leis de seu reino. Muito menos contra as de um reino
do qual não é filho. Que seja feita a sua lei. Não posso me meter nisso... Não
me cabe o direito... Ainda não. Após essas palavras ele sai correndo em forma
de raposa.
– Maldita sejais tu, substituta,
por profanar locais sagrados e trair nosso reino de tal forma. De si, que os
deuses tenham misericórdia. Que a luz a acompanhe até a morada de seus
ancestrais nessa despedida, é o que Lilith diz.
– Infelizmente o arrependimento
virá Lilith, e a marca feita em ti te levará junto comigo.
– Belas palavras, belas e
equivocadas. Estas aqui serão as últimas. –ela aponta a Kaleido para o rosto de
Hatsumomo – Dai Bakuhatsu.
A maga desintegra o corpo da
substituta com essas palavras. Substituta que seria agora conhecida como
traidora caso essa informação vazasse. A essa altura o aprendiz estava longe,
decerto pensando no ocorrido. Paralisa novamente. Sente que uma aura está se
esvaindo diante de seus sentidos, como se alguém importante que estivesse lhe
tocando estivesse se afastando e se desfazendo, se despedindo naquele exato
momento, lento e duradouro, que se estende até a eternidade. Tudo aquilo e a
corrente de pensamentos que toma conta de seu ser começa a escorrer sobre ele
como as gotas da chuva que começa a cair. Lentamente, lentamente, mais fortes,
mais rapidamente, agora várias e várias. Uma chuva torrencial. São gotas
profundas, penetram nas mais profundas profundezas da terra, e mais profunda
parece ser a dor da raposa, e ainda mais profunda parece estar a localização da
alma da Hatsumomo. O tempo passa, sabe-se lá quanto. Ora, pra que noção de
tempo? Aos poucos começa a se mover, lenta e cabisbaixa raposa. O que se passa
em sua sábia cabeça, só ela poderia nos dizer. Ou melhor, só ela que não pode
nos dizer. Não agora, não daqui a dois dias. Não até que apagasse de dor e
cansaço mental, físico, metafísico, espiritual. A raposa em sua aura de
melancolia adentra na floresta negra, envolta em flashbacks e instantes de
relembrar momentos. Alguns deles ocorridos ali mesmo. Outros em sua terra
natal. Todos essencialmente importantes para tê-lo feito chegar ao seu atual
estágio de angústia. Todos sem importância nenhuma diante daquilo que tomou
conta de seu coração. O luto se materializa como um fardo pesado para ele, e
mesmo assim a raposa apenas caminha, caminha, e caminha, e caminha, e é
finalmente vencida, após toda a resistência. Estava em desvantagem numérica
contra angústias, lembrança antiga, sentimentos, cansaço. Quem vem em seu
socorro nos momentos de total perdição é parte de si mesmo. Só assim a
“salvação da imersão em melancolia” pode ser efetiva. As gêmeas katanas, unidas
na guerreira semelhante a seu mestre chamam pelo seu nome. Inicia-se dessa
maneira um diálogo a quatro em seu mundo espiritual, o mundo das tempestades
agora completamente tomado por uma chuva de dor e tristeza.
Capítulo 8 – Outra história
– “O que querem de mim? Vocês já
sabem o que está acontecendo...”
– “Queremos o seu poder.”–
responde a guerreira de katana dupla. Voz dupla também ela tinha, e com voz dupla
continua. “Graças a seu poder, eu e aquela raposa branca existimos. Não
queremos morrer, assim como qualquer ser vivente. Queremos seu poder, o de nos
dar vida.”
–“Seu coração tomado pala
tristeza acabará apagando a nossa existência, essa chuva acabará varrendo de
seu interior a nossa existência!” Era a raposa continuando.
–“A chuva, que nunca deixa de me
lembrar uma pessoa...”
–“Mestre... A Hatsumomo se foi,
nem mesmo a mais poderosa das criaturas desse lugar pode restaurar uma vida
perdida” Dizem as katanas
– “Não... não era ela, não era
exatamente ela... era algo que eu pensaria muito antes de contar até a mim mesmo.”
– “Ora filhote, nós somos você.
Em parte... nossos contratos feitos... comigo, um selo de minha vontade
própria, com elas, um pacto. Nos dois casos, união e submissão a você.”
–“Sábias raposas e entidades...
com as colossais capacidades de argumentação. A Hatsumomo era como a chuva...
por isso me lembrava alguém. Alguém que foi importante na minha vida. Vivi por
muito tempo no escuro e na ignorância, no frio, na solidão. E essa pessoa apareceu
e me tirou disso, era alguém que mantinha longe do frio da solidão, e desta
última propriamente dita. E o que verdadeiramente se chama solidão aparece na
ausência de amor, foi o que ela ensinou. Mas ela, aquela pessoa me manteve
longe disso. A pessoa que por momentos me deixou de forma aconchegante em seus
ombros. Quando ela fazia isso apagava toda angústia, tristeza, cansaço ou
ansiedade que residia em mim. A pessoa que algum tempo depois não me recebeu
mais em seus braços, nunca mais me iluminou com um sorriso, nunca mais me fez entender
inúmeras palavras com um simples olhar, nunca mais me guiou puxando-me pelo
pulso... nunca... Fiquei feliz mesmo assim, mesmo com a distância tornando isso
tão triste e drástico. Antes de ir ela me ensinou outra coisa. Mais vale a
ausência sincera do que a presença falsa e incompleta. E após me ensinar
aquilo... reticências. Tentei ler aquelas reticências, aqueles olhos eram vagos
por natureza, ela foi o maior mistério que eu tive em mãos. Costumo dizer que
as personalidades parecem enigmas. E quanto mais deciframos o enigma de alguém,
mais sabemos da personalidade daquele alguém. As existências ficam nesse eterno
jogo, liberando partes de seus enigmas propositadamente, escondendo outras para
que não sejam vistos por certas pessoas. É certo que não dá pra decifrar
totalmente a outra pessoa, mas eu sempre gostei de ver o máximo que conseguia.
E apesar de tudo, apesar dela dizer “até que você me entende”, ela foi o enigma
mais complexo que eu tive pra decifrar. E antes que ela me acolhesse mais uma
vez, se foi. E assim até a chama eterna da esperança perdeu forças e apagou.”
–“Você só se preocupa com os
problemas dos outros. Se você arrumar só a vida dos outros, quem vai arrumar a
sua vida? A solidão não provém da falta de companhia, ela nasce da falta de
amor, assim como ela ensinou. A sua “pessoa importante”... por isso chove nesse
mundo, e nós sentimos frio, assim como você, filhote. ”Responde a raposa
gigante, acolhendo a pequena raposa entre as patas.
–“Raitun... Raitun! A sua voz é a
que alcançou as nossas almas. Ela que nos uniu e nos aconchegou... deu-nos um
ombro para nos sustentarmos. Por isso queremos ouvir novamente sua voz. Sempre.
Não somos muito fãs da chuva, não neste mundo. Neste mundo também chove. Quando
você enfrenta problemas, quando está com a calma tomada pela melancolia, o céu
aqui se fecha e começa uma chuva que nós odiamos. Odiamos essa chuva, e temos
medo de nos molhar nessa chuva, nesse mundo solitário. Queremos parar essa
chuva, e vamos emprestar a você todo o poder que precisas, mostraremos a você o
quão poderoso é a perfeição em forma de aprendiz. Vamos nos acolher uns nos
ombros dos outros, e cooperar, e não deixar o outro com frio. Você compreende o
pavor que tenho dessa chuva? Não queremos mais que chova aqui, queremos apenas
nossos ventos assustadores e tempestuosos. Se você acredita em mim, digo-lhe
que não deixar um pingo de chuva nesse mundo. Se chamar os nossos nomes,
atenderemos ao seu chamado, até destroçar nosso inimigo! Acredite em nós,
mestre. Você não é o único que está lutando para arrumar os problemas dos
outros, e seus próprios problemas. O poder de acreditar é seu.”
–“Acredite em nós, e reacenda o
fogo da raposa. Acredite que não é o único que luta para arrumar problemas
alheios, e seus próprios problemas. Você tem o poder de acreditar.”
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