Aprender a escrever...

Aprender a escrever só se faz escrevendo. E só aprendemos bem aquilo que para nós tenha poesia.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulos 9 e 10

Capítulo 9 – A marca da foice


– Cumulus Nimbus... Tenko Kitsune-bi...
– Finalmente acordou, comenta Mary Anne acolhendo a raposa no colo.
– Entrei em seus domínios?
– Está dentro do templo. Não poderia lhe deixar jogado na floresta debaixo daquela chuva. Lilith me mataria quando soubesse. “E ela não está em condições de ficar se estressando com isso” Pensou ainda.
– Detalhes.
– Ainda não posso... Aliás, você também não pode. Não pode desistir de seu caminho agora.
– Quando a presença de Hatsumomo se foi senti a presença de alguém importante tomando o mesmo rumo. Preciso voltar verificar, ajudar aquela pessoa.
– Alguém está precisando muito da sua ajuda, e está bem a sua frente.
– Quem seria?
– Lilith.
– Detalhes. O garoto toma a forma de garoto e se senta, ainda mantendo as orelhas de raposa.
– Em alguma das lutas com Hatsumomo Lilith foi ferida por aquela foice. Não foi uma ferida comum, aquela foice não era comum, e estava pior do que já era antes. Do ferimento brotou um mal antigo, uma magia negra chamada shi no shirushi.
– Shi no shirushi?
– Sim. “Marca da morte”. Essa marca é como uma doença, se ela crescer e se completar, Lilith morrerá. O que precisamos, o que você precisa é descobrir junto com Alexis a cura ou o contra feitiço, ou algo que a salve. Você parte amanhã ao nascer do sol. É perigoso à noite com os Luminus se infiltrando no reino.
– Vou agora. Raposas têm boa visão.
– Tome cuidado. Cautela, porém urgência. Como você sabe, o rio em meus domínios é o lugar onde se lamenta pelos mortos. Se não houver acordo com a morte, acabaremos tendo mais alguém por quem lamentar... Meus domínios não são regidos pela alegria, por isso você quem precisa fazer isso por ela.
– Explique-se.
–Vá.
–“Lamentar os mortos”... – O aprendiz faz um gesto com a mão, invocando Kitsu.
– Ora, você não era uma raposa independente? Diz a raposa ao aparecer
– Se você já está ciente dos fatos, e sei que está, sabe que não deveria estar arrumando pretexto pra discutir.
O aprendiz se dirige ao Nefirus, onde para, se ajoelha e lamenta por alguns momentos a morte de Hatsumomo. Pede que Lilith não tenha o mesmo destino. Não agora. Acaba até ganhando certa atenção dos celtamorfos com a oração fervorosa. Além disso, consegue uma breve conversa com Ácades, o celtamorfo que lhe aconselhara outrora em sua primeira visita ao local. O conselho dado dessa vez foi “Mantenha seu caminho sem se importar com nada, mantenha sua escolha sem se importar qual é.”. Depois da parada no rio os dois partem em direção ao templo do norte. Lá as respostas das perguntas não são tão animadoras quanto ele esperava.

Capitulo 10 – Conselhos da Matriarca


– A única coisa que purificaria algo poderoso como aquilo seria uma pena da cauda de uma fênix. E há muito, muito tempo elas sumiram. Além de que demora muito tempo para preparar uma pena de fênix adequadamente. Infelizmente, minhas mãos estão atadas. Mas não as suas: tenho uma missão especial para te dar. Amanhã, mais ou menos a essa hora estaremos em um grande festival que acontece em Midgard. Quando estivermos lá você irá entretê-la como se o imperador fosse seu vassalo. Sua sacerdotisa está com a morte marcada, mas você dará a ela uma morte digna e feliz. Por agora, descanse aqui. Amanhã você irá ajudar a Louise com os preparativos do festival.
Ouviu as ordens da elfa, depois resolveu sair do templo e dirigir-se para a floresta. A floresta das Willow. Anda um pouco por ali, e acaba se deparando com a majestosa e enorme Yggdrasil. Após uma breve prece ele continua andando por entre as árvores, e em frente à maior delas faz uma nova parada ao escutar uma voz densa que ecoa por ali. Vinha da maior Willow da floresta, a que estava diante de seus olhos. Seria uma árvore comum, se não fosse pelo porte e por vários galhos que se mexiam como se tivessem vida e mobilidade de dedos. E por certa parte do tronco lembrar um rosto. Novamente o som da gigantesca árvore ecoa quebrando a contemplação do garoto.
– Olá filhote. O que você veio procurar por aqui?
– Paz... Conselho... Algo. Não sei. Perdão por estar andando por aqui repentinamente e não ter me apresentado, e peço perdão novamente por não saber quem é você.
– Me chame de Tatsuy. Sou a mais antiga das Willow.
–Então você seria algo como uma “vovó Willow?”
– Não me chame assim... Pareço uma velha desse jeito. Que tal um meio termo. Chame-me de Matriarca ou Tatsuy.
– São nomes interessantes. O primeiro é poderoso, o segundo é... Exótico.
– Como se você pudesse falar de nomes exóticos, tuntun. Então filhote, o que você realmente veio fazer diante de mim? Mergulhado em dúvidas?
– Não acho que seja exatamente isso Tatsuy.
– Que intimidade... Então, você veio me dizer que já decidiu o que vai fazer?
– Algo do tipo. Mais precisamente, vim lhe dizer o que eu decidi. Acho que acabei demorando mais que o devido pra me decidir. E que tudo acabou influindo nisso. Seria problemático escolher apenas uma. Pensei em retornar ao frio e á solidão. Continuei pensando, e me decidi. Não queria que alguém pensasse que era a “alternativa”. Acho que aos escolher, percebi que mesmo diante de milhares de alternativas, se a sua alma, sua personalidade e seu desejo não mudar, a escolha não irá mudar. Não quero mudar a mim mesmo, nem o que escolhi. Ela foi quem eu escolhi.
– Então seria por que “a tempestade faz um enorme estrado, uma tempestade com uma nevasca faz um estrago infinitamente maior”?
– Diria que é algo do tipo. É ótimo fazer grandes estragos.
– É verdade. A tempestade não depende da chuva para ser tempestade. Ela provoca a chuva. Vire uma nevasca, não vá contra a natureza dizer que depende da chuva.
– Agradeço pelos conselhos Matriarca Tatsuy. Algo a mais pra me dizer?
– Ah, sim! Você vai entretê-la, não é? A sacerdotisa da neve?
– Correto. Alguma recomendação em relação a isso?
– Atenção total a ela. E cuidado redobrado. Sinto que a calmaria está para acabar. Se estiver certo de sua escolha, conte a ela.
– Pensarei nisso com cuidado...
– Descanse agora filhote. Amanhã grandes coisas vão acontecer. O vento está me contando.
– Agradeço novamente, grande matriarca. Agora vou olhar o teto, espelho que reflete meus devaneios, até o que o sono tome conta de meu ser.

– Vá em paz, com a benção de Lilith, diz a grande Willow ao aprendiz. Este se retira da presença da matriarca e vai se deitar no chão do templo. Acha algo como um colchonete ao lado, chamado no Japão de futon. Era de se esperar, considerando toda a fachada do lugar. Talvez seja apenas um colchonete devido às religiões de lá pregarem certo apego ao materialismo. O garoto pensou nessa questão, e em muitas outras. Acabou pensando que ainda estava acordado, mas já estava dormindo.  Estava há momentos atrás olhando o teto, que de certa forma sempre lhe parece um espelho, sempre mostra um resumo do que aconteceu. As visões da sacerdotisa se mostravam mais nítidas. Porém agora ele finalmente dormiu. Do nada, assim como qualquer um.
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