Aprender a escrever...

Aprender a escrever só se faz escrevendo. E só aprendemos bem aquilo que para nós tenha poesia.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulo 1



Parte 2


Capítulo 1 – Hora do over hit


– Vamos, pare de escrever, pirralho insolente. Eu tenho a sua libertação entre meus dentes e assim é que eu sou tratado?
– Como assim raposa? Qual a armação da vez?
– Chegou a hora de aplicarmos o over hit.
– Over hit? O que será que é um over hit?
– Será o golpe final que de bônus trará a vitória de nossa aposta. E como efeito adicional pode até arrancar a máscara daquela substituta.
– A Hatsumomo não é má, Kitsu, você está se enganando nisso.
– Sem tempo para discussões bobas e assuntos triviais. Lembra sobre aquela previsão de Alexis do dragão mais poderoso?
– Lembro, dizem que ela quase sempre acerta. Mas o que tem a previsão dela?
– Matando ele o over hit será efetuado com sucesso.
– Matar o dragão mais poderoso que já existiu?  Como vou matar o dragão mais poderoso, se no último precisei de sua ajuda, e você ainda disse que ele era um lixo?
– Agora além de se subestimar quer fazer o mesmo comigo? Suas habilidades guiadas pela minha inteligência serão suficientes.
– Sir Raitun, relatando problemas. – diz o aiodrome do aprendiz, interrompendo a conversa. – Um dragão muito poderoso invadiu o reino pelo sul. A sacerdotisa Lilith está em combate contra ele no momento.
– Pyth. Nada bom... Não achei que ele vinha tão cedo. Raitun, temos de executar o over hit agora. Lilith não tem poder suficiente para derrotar Pyth.
– Quem é Pyth?
– Pyth é um dragão de verdade, filho da primeira geração pura de dragões nascido há muitos anos. Um dragão vermelho de seis asas, filho de Loth. É um dos dragões mais poderosos, ao Lado de Loth e Ayenth, o primogênito. Dizem que domina mais do que fogo e que mora próximo ao submundo. É mais do que suficiente para ganhar um desejo, não acha?
– E como você sabe quem é ele? Como você sabe como ele é?
– Não temos tempo para isso, preciso liberar suas habilidades, precisamos dar assistência a Lilith.
– Até agora você não me explicou como vai “liberar minhas habilidades”. –
A raposa toma forma de um aiodrome, e entra no corpo da Raitun. Voltamos ao mundo espiritual do aprendiz.
– Ei, como você entrou aqui? Por que você está aqui?
– Liberando selo do modo Kyuubi. – O aprendiz não tempo de perguntar o significado da frase. A mana da raposa invade o local, e um símbolo estranho dentro de um círculo aparece no chão.
– Uma barreira mística circular.  – continua a raposa. – Sabia que ele tinha esse recurso no meio de suas habilidades e contratos. – O aprendiz continua a não entender, e se resume a observar. Havia nove figuras fora do círculo, que por acaso se move e deixa o aprendiz dentro dele. As novas figuras lembravam chamas, e um chama se acende em cima de uma figura. Ao passo que uma acende, uma cauda da raposa faz o mesmo. Um fio de mana atravessa a barreira e atinge o aprendiz dentro do círculo envolto pela barreira, formando uma espécie de ligação ente os dois.
– “Agora entendo” – pensa o aprendiz.
– “Então faça logo, antes que a Lilith morra.”
– “Liberando modo Kyuubi, primeira cauda.” – Agora o susto é dar gêmeas ao ver seu mestre se transformando. Agora havia duas raposas gigantes liberando um poder monstruoso enquanto estão ligados por um fio de mana.
– O que eles pretendem fazer afinal? Uma explosão gigantesca?
– Não, vão exterminar o dragão.
– E o que eles estão fazendo?
– Kitsu está funcionando como um selo para o poder de Raitun. Ele está suprimindo o poder dele, para que Raitun mantenha seu foco e não se descontrole. Ele não consegue controlar tanta mana ainda.
– Esses mestres estranhos que nós temos... – em meio à conversa das gêmeas, o corpo físico de Raitun toma a forma da raposa gigante e se dirige para o sul no intuito de ajudar a sacerdotisa. Esta, no decorrer da luta com o dragão percebe que suas flechas não causam muito dano ao dragão, pela rápida regeneração dele. Apreensiva com a demora da chegada de reforços, apenas se desvia dos golpes. Era o máximo que poderia fazer aproveitando-se de sua velocidade e agilidade. Sua expressão mostra apenas relativa calma e confiança quando sente a aura aliada nas suas costas: uma raposa gigante, quase do tamanho do dragão, patas e cauda em chamas, olhos amarelos fixos no inimigo.
– Onde está a sua pontualidade? – indaga Lilith
– Sincronizar e controlar isso não são tão coisas tão fáceis de fazer quanto parecem ser. – respondem em coro as vozes de Raitun e Kitsu.
– “Você não tinha mencionado que nossas vozes ficariam juntas. Agora ela sabe que estamos unidos.”
– “Aprendiz idiota. Ela sempre soube disso e do plano. Por que você acha que foi designado para fazer isso? Um problema desses é resolvido por alguém do nível de Lorde imperial!” – Porém o momento de diálogo é um descuido que acaba custando caro. O dragão finalmente consegue acertar a sacerdotisa, e esta é lançada para longe com a patada certeira. Depois de se certificar que realmente a sacerdotisa está agonizando, ele olha com desprezo a raposa que está se preparando para atacá-lo.
– Agora raposas querem se comparar aos dragões? Meu pai gostaria de perder tempo esmagando vermes insolentes como vocês.
– Quem sabe não sejamos superiores a dragões que falam de seu reflexo usando nomes alheios? Quanto a seu pai, uma pergunta: ele realmente se incomoda com nós, ou o filho do qual ele tanto se orgulha é fraco a ponto de precisar da ajuda do pai para esmagar uma “reles raposa”?
A arte das ilusões é praticada com maestria por raposas, e usar palavras para tal propósito não é algo fora de cogitação, afinal, palavras tem o poder, detêm a vida e o sentimento de quem as usa.
– Toda e qualquer existência desse reino será desintegrada graças à existência maldita, raposa! Aliás, por que não começamos com as penas da arqueira de curvas perigosas?
 A primeira baforada do dragão é direcionada para Lilith, porém a raposa se transporta para a frente da sacerdotisa a tempo de criar uma barreira de fogo como proteção. A ira do aprendiz começa a ser canalizada em poder, e mais uma chama se acende. Mais uma cauda aparece.
– Ora, então terei o “grande prazer” de esmagar a “lendária” Kyuubi?!
– Tocar no orgulho de uma raposa. Imperdoável. Kitsuhi!
O fogo gelado da raposa bate de frente com a baforada de fogo do dragão, e em disputa de fogo contra fogo, o dragão é forçado a se desviar antes de ser atingido. Esse movimento dá tempo suficiente para a raposa pular com garras e dentes em cima do dragão, e as duas criaturas começam um embate feroz e destruidor. Cada vez mais a ira do garoto aumenta, e ela se acumula em quantidade suficiente para libertar uma terceira cauda. A terceira cauda dá leve vantagem em poder de ataque para a raposa, o que não faz diferença, pois mesmo que as duas criaturas se dilacerem também se regeneram muito rápido. O céu começa a se fechar com nuvens negras, e o aprendiz nota que uma nova aura se aproxima. Seus olhos amarelos rapidamente varrem o local procurando o portador da aura, enquanto seu corpo reage e desvia por reflexo. Finalmente acha algo: alguém afastado do local da luta, alguém que usava um capuz e uma foice parecia manipular as nuvens. Porém não tem tempo para refletir sobre o portador da aura, está no meio de uma luta, e uma luta que pode mudar sua vida (afinal, “um desejo concedido” é algo bem poderoso, sendo utilizado da maneira correta). Lágrimas do céu caem sobre duas bestas em fúria, e logicamente, a água toda enfraqueceria teoricamente o fogo do dragão, principalmente. Infelizmente a aparente vantagem acaba se tornando um grande problema: com a mudança de cenário o dragão muda também seu elemento. Ser atingido por uma técnica de raio em meio a uma chuva torrencial, quando se está ensopado é uma péssima ideia, não importando o fato de você ser um garotinho ou uma raposa mística com um terço do seu poder liberado. As primeiras descargas liberadas pelo dragão são desviadas/defendidas com certa dificuldade. Depois veio uma rajada contínua de raios e mana, que acaba derrubando a raposa. Quando uma bola de neve começa a rolar, tende inevitavelmente a aumentar de tamanho.
– “Raposa, vamos liberar a próxima cauda.”
– “Não. Muito perigoso, se você perder o controle vai acabar ajudando ele a destruir o reino.”
– “Irei destruir o dragão! Não posso deixá-lo impune pelo que ele fez a Lilith, iremos reduzi-lo a pó!”
– “Isso tudo pela Lilith?!”
– “Cale-se, raposa maldita! Ajude-me de uma vez!”
– “Responda, pirralho estúpido!”– Enquanto a discussão e o caos acentuam a tempestade do mundo espiritual de Raitun, mais uma presença aparece quando o dragão preparava seu golpe de misericórdia.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Projeto - Capítulo 28 ( Fim da parte 1)



Capítulo 28 – O caminho a seguir

        
– O caminho.
–Como assim?
– O caminho de um aprendiz. Hora de por suas habilidades em prática.
– Como farei isso?
– Você irá fazer trabalhos, missões para o reino, assistido por mim.
– Quando e onde começamos?
– Agora. Sua primeira missão é apanhar aquele gato preto à nossa frente. Ele definitivamente não é daqui. – O garoto ia perguntar algo, porém o medo dos olhos amarelos da raposa é maior e o impede. A única opção que lhe resta é tentar em vão pegar o tal gato. E falhar inúmeras vezes. Logicamente, o gato não era dos mais comuns. Saltava, mudava de direção no ar e por vezes até sorria debochadamente de orelha a orelha de Raitun, sumindo e virando fumaça quando Raitun tocava seu corpo. Finalmente a irritação supera a paciência e os olhos amarelos da raposa aprendiz fixam o alvo da missão.
– Gato idiota!– diz Raitun, enquanto as raposas invocadas por ele rapidamente (e finalmente) capturam o gato.
– Você entendeu o que disse sobre "usar suas habilidades" ou é o aprendiz mais idiota desse reino?
– Acho que apenas não me acostumei a ter "habilidades".
– Perder para um gato, lamentável.
–Ora, cale-se! Raposa maldita.
– Exijo respeito de fracos que perdem para gatos. Devem me chamar no mínimo de "Grande Raposa".
– Qual a próxima missão, ó grande e honorável raposa?
– Eu deveria condenar a virar escravo quem falha miseravelmente a honra das raposas perdendo assim para um gato. Lamento não poder fazer isso dessa vez. – Logicamente, tal frase levanta a questão "por que dessa vez não?”, mas perguntas desse tipo são sufocadas por qualquer coisa, a todo custo. Você também acaba de ter a impressão de que tais perguntas voltarão com o vento? Então estás realmente imerso em nossas memórias. O caminho do aprendiz acaba de começar, e seu tamanho é relativo, assim como tudo o é, não importando em qual mundo estamos. Não lembro onde ou quando, mas aprendi que esse conjunto de relações e coisas de certa forma garante nossa sobrevivência nossa alegria e nossa dor.  Basicamente o caminho do aprendiz seria absorver o máximo dessas relações, usando o aprendido para aprender. Aprender várias lições de vida, para ter recursos para sair de várias situações problemáticas, e ajudar outros com suas dúvidas. Resumidamente, funciona como mais um círculo vicioso como muitos outros existentes, e o complicado é explicar o que alimenta essas coisas estranhas que os humanos sentem. Alguns poderiam dizer que o motivo para trilhar este ou outro caminho é a vontade própria, o que neste caso podemos chamar de "sede de aprendizado". Não considero um motivo algo forte o suficiente para uma prática ou tradição ser mantida de forma eterna ou duradoura. As coisas mais importantes são feitas sem motivos específicos na maioria das vezes. Relacionamentos, laços, memórias e coisas duradouras de qualquer tipo são mantidas sem motivos nenhum, construídas sem motivo nenhum, e consideradas coisas extremamente importantes sem motivo nenhum em especial. É como dizer algo como "Vou fazer isso com todas as forças, juro pela minha alma!", é como dizer “Espero que eu guarde aquelas palavras, aquele sorriso, aquele gesto, aquele cheiro para sempre. Se isso não for possível, que eu o faça pelo maior tempo possível.”
– Chega de escrever por hoje, pirralho estúpido!
– Cale-se, raposa maldita!
 O caminho do aprendiz havia continuado. Algum tempo havia se passado, e agora Raitun ganha mais fama e suas habilidades chegam a ser superestimadas a ponto de Kitsu, seu tutor, fazer uma aposta com o próprio Imperador do reino, Crossmusse Del Alfarroz II em pessoa. E a aposta foi apoiada pelos Lordes Imperiais e sacerdotisas, todos do lado de Raitun. Isso ocorreu em uma ocasião onde Raitun foi chamado para entreter a corte (Herança gueixa. Interessante não é?). Em meio às conversas saiu um “Se ele não pagar suas dívidas com o reino nos próximos três meses seremos seus escravos, nos rebaixaremos a simples cães fiéis. Porém, caso ele consiga, eu tenho direito total sobre os ganhos futuros dele, vossa majestade devolve metade do que ele ganhou nos três meses a nós dois, e ele tem direito a um desejo, qualquer um.” Os ganhos citados são relacionados com as missões e caçadas. Grande parte ia para o reino, em forma de impostos e manutenção de estragos feitos em alguma luta. Como um aprendiz no começo da vida faz muitas coisas erradas antes de aprender, toma tempo, equipamentos e outras coisas ele forma uma dívida maior do que o que ele ganha nas missões. Uma oferta tentadora para o anão. Aprendizes ganham muito pouco, afinal, são fracos demais para fazer missões mais perigosas, só conseguem saldar suas dívidas após anos, caso tenham sucesso. E é quando deixam de ser aprendizes. Ninguém ficou mais feliz com isso do que Hatsumomo, cujo ódio pelo aprendiz crescia, rancor e escuridão engoliam tudo aos poucos. Muitos dizem que ódio e amor são muito próximos, mas isso é história para outro momento. A raposa tinha desde um início um plano arquitetado, afinal, raposas não entram em apostas sem ter certeza de que vão ganhar (ainda mais se falando em uma aposta que coloca seu orgulho e honra em jogo).

“Olá. Sim, sou eu de novo. Não, não importa quem eu sou, você que é importante aqui. Você e o Raitun. Espero que não tenham se espantado por ele ser careca. Dizem por aí que ele simplesmente não gosta muito do próprio cabelo, ou que ele é uma espécie de guerreiro-mago-monge, ou qualquer coisa do tipo. Eu não digo nada, apenas conto e pergunto: você gostou? Espero que sim, sabe... e... bem, apesar de ainda ter muita coisa pra contar, pelo menos você já sabe agora o que é um aiodrome e essas coisas do tipo. E quem é o Raitun. Bem, pelo menos agora vocês acham que sabem. Eu também acho que sei. Quem sabe um dia enquanto eu vou contando e vocês ouvindo não descobrimos a verdade sobre eles? Ah sim, o que eu sei até agora é: é verdade que ainda não aconteceram muitas guerras e batalhas tão épicas, mas elas estão mais perto do que longe. Caso você queira continuar a ouvir o que eu conto, vai dar de cara com elas daqui a pouco, assim como deu de cara com Montris. ‘Puf’!!!”

Ass: Aquilo que conta
P.S.: Espero que você continue, assim não vai ter sido em vão eu ter contado que aiodromes são mais interessantes do que se imagina. E um protagonista careca também!

domingo, 27 de abril de 2014

Projeto - Capítulo 27



Capítulo 27 – Coisas estranhas

                 
– Coisas estranhas, mundo estranho... E mulheres estranhas. Acho que essas águas termais não fazem tão bem para a pele quanto ela disse. – e mesmo com a conclusão formada, continua a relaxar, ou a tentar. Após um tempo, volta ao templo e é chamado pela sacerdotisa. Ajoelha-se em frente à porta, abre-a, entra, ajoelha-se novamente e a fecha.
– Aprendeu mesmo as coisas com a Sayumi. Mas, não lhe chamei pra treinar isso. Aconteceu algo estranho.
– Dependendo do ponto de vista, concordo plenamente. – diz Raitun fazendo uma mesura. Se aproxima e senta à mesa. Assim como no templo de Lilith, as mesas e tudo mais tinham estilo japonês. Isso às vezes o faz pensar o que é realmente aquele mundo, com tanta coisa “familiar” (e tanta coisa nada familiar, mas ainda assim familiar). Volta-se novamente à mesa, depois de um breve devaneio. As mesas japonesas são baixas, por que os japoneses sentam no chão ou ajoelham em uma posição chamada seiza para comer nelas ou tomar chá... Como a maioria das mulheres, Louise se ajoelhava, e Raitun, como a maioria dos homens, sentava com as pernas encolhidas. Espadas geralmente ficavam no colo ou ao lado do dono. Presume-se que outras armas tenham o mesmo tratamento, afinal as armas são parte do guerreiro nesse mundo.
– Me pergunto como você soube.
– Ah, agora entendi. Não estamos falando do mesmo assunto. – Constata a sacerdotisa, um pouco tarde talvez.
– E qual seria o seu? – indaga o aprendiz.
– Nosso aprendizado será interrompido prematuramente. Você deve ir ao próximo templo. – O aprendiz pensa em retrucar, mas lembra-se do respeito.
– Como desejar.
– Para o oeste jovem, para o oeste. E uma informação adicional importante: No reino de Montris, os caminhos vão por VOCÊ! – E a respeito do jovem foi uma mesura e a sua retirada do local, montado em Kitsu e rumo a oeste, como prometida.
– O que foi aquela última frase da sacerdotisa Louise?
– Informação confidencial – resmunga a raposa enquanto corre.
– Que irritante esse monte de informação confidencial! – após uma pausa, continua – Ei, o que acontece se eu descobrir alguma informação confidencial?
– Informação confidencial. Primeiro: fique forte. Depois, cresça e aprenda. Por último, fique realmente sábio e verdadeiramente forte. – O aprendiz por hora apenas se segura na raposa, mantendo os olhos fechados. De repente toma um susto, é arremessado contra uma árvore.
– Isso dói, raposa maldita! – Só então ele se dá conta do verdadeiro choque: estava em uma densa floresta negra, uma névoa embaçava tudo que se encontrava à sua volta e a “raposa maldita” não estava lá.  O desespero e o medo tomam conta do aprendiz, apesar de tudo ainda era um humano. Um humano perdido em lugar que não sabia onde ficava, onde era ou se existia. Tomado por desespero, em um lugar sombrio onde a esperança diminui, e os passos apertam. E após um tempo o aprendiz finca as katanas no chão, vencido pelo cansaço.
– As gêmeas me pareciam tão sábias e seguras. Ah, se as gêmeas estivessem aqui comigo nesse momento...
– Raitun...
– Ah, gêmeas...
– Raitun...
– Se vocês estivessem por aqui...
– Raitun!
– Gêmeas?! As gêmeas! Ei, onde vocês estão?
– Estamos dentro de você, seu estúpido. Somos uma existência só, lembra?
– Ah, verdade.
– Mestre idiota. Por que demônios o escolhemos mesmo? Temporada de caridade? – dizem as gêmeas katanas, enquanto suas lâminas brilham e elas se materializam. – Pronto, estamos aqui na sua frente.
– E onde seria “aqui” no momento?
– A floresta negra do oeste.
– E era até aqui que queriam que eu viesse?
– Um pouco mais além daqui.
– Por que vocês gostam de falar juntas?
– Apesar de sermos duas, formamos um conjunto perfeito funcionando como um só. Por isso falamos sempre juntas. Mestre idiota.
– Tá, tá... E como eu saio daqui?
– Mestre, palavras nunca são ditas em vão. Não em Montris, e provavelmente, no seu mundo também não.
– Como assim? – Antes da resposta ele faz um movimento pedindo para que elas não falem. Bem a tempo de escutar as vozes delas ecoando pela floresta: “em Montris”, e isso lembra a ele da frase estranha da sacerdotisa, que tinha algo parecido com esse fragmento.
– Ah, e por que vocês só apareceram agora?
– Não fomos requisitadas por nosso mestre antes.
– Já que não foram antes, que sejam agora. O que a sacerdotisa disse antes de sairmos?
– “No reino de Montris, os caminhos vão por você!” ou algo do tipo.
– E o que isso significa?
– Sabemos, e ao mesmo tempo não sabemos. Se as palavras foram ditas a você, você quem tem que encontrar a resposta.
– Vocês são parte de mim ou não? – O silêncio toma conta do lugar naquele momento, até que ele suspira e diz: – Que o caminho venha até mim...
– “Caso eu peça com a minha alma”?! É uma boa ideia.
– Que o caminho venha até mim, caso eu peça com a minha alma – diz ele, usando um pouco de mana. A aposta pareceu bem sucedida, algumas árvores se afastam, e mostram a ele um caminho em meio à floresta escura. A essa altura, as gêmeas já voltaram pras bainhas. Mesmo hesitante, resolve seguir seu caminho, até bater literalmente de cara em algo, que parecia bem real e sólido, porém invisível. Raitun usa seus olhos de raposa, e vê que na coisa invisível com a qual bateu circula uma imensa quantidade de mana, como uma parede.
– Uma barreira. Por que tem uma barreira no meio da floresta?
– Para afastar visitantes que não devem visitar este local, é claro.
– Quem é você?– Pergunta ele à voz feminina que veio de dentro da barreira
– Quem mais estaria em um templo protegido por uma barreira?
– Ah, então você deve ser a sacerdotisa Mary Anne.
– Correto. Atravesse a barreira para conversarmos melhor dentro do templo.
– A barreira não me deixa passar.
– Então morra aí fora, aprendiz incapaz. Não falo com quem não consegue atravessar essa barreira.
– Mas...! – o aprendiz suspira, resolve ponderar as palavras e se focar em atravessar a barreira. Após algumas tentativas falhas, ele tenta usar seus poderes para quebrar a barreira.
– Essa não é a maneira certa. – diz Kitsu de dentro da barreira.
– Raposa maldita! – o aprendiz avança tentando atingir a barreira, porém é cada vez mais rejeitado por ela, dessa vez é jogado para trás e bate em uma das árvores.
– Você é realmente idiota. Você quer atravessar uma barreira defensiva dela com esse nível de ataque? Dessa maneira?
– E que nível de ataque eu devo usar? O poder dos deuses?
– Use a sua mana para proteção, não para atacar. Idiota.
O aprendiz concentra mana em volta do corpo, como uma armadura, uma segunda pele. E finalmente, após algumas tentativas, consegue atravessar a barreira indo com as katanas de encontro à raposa. Porém não consegue acertá-la, apesar de tentar várias vezes. A sacerdotisa observa um pouco os dois.
– Você veio aqui pra brincar de pega-pega com a raposa?
– Me mandaram vir até aqui, porém eu não sei o porquê. Se puder me fazer o favor de explicar, eu agradeço. – comenta o aprendiz.
– “Não sei o porquê”, heim? – a sacerdotisa põe a mão na testa do aprendiz e fecha os olhos por instantes – Você está um pouco confuso. Aconselho-o a ir meditar um pouco ao lado do Nefirus. O clima parece obscuro, mas isso irá clarear relativamente as coisas dentro da sua mente. – O aprendiz responde com uma mesura, se dirigindo ao rio. Ao chegar, se senta na margem e fica observando as águas escuras passando. Suas lembranças vêm à tona. Lembranças do quando estava em seu mundo verdadeiro, e era um garoto fechado em seu quarto que aos poucos foi evoluindo, e aprendendo a viajar em suas ideias. Conseguiu algumas valiosas amigas e conselheiras, e aprimorou tanto essa habilidade que de alguma forma estava realmente em viagem dessa vez. As águas pareciam um espelho de sua alma, e elas começam a mostrar cenas, não do mundo original dele, e sim de quando ele chegou. Os pequenos aprendizados e lições. “Nunca desista, pelo menos não até conseguir o que quer”. “Conhecimento é poder”. “Fique sábio, assim você ficará realmente forte.”. “Mesmo que seu caminho seja solitário, se é o que você escolheu, siga-o até o fim, e supere todos os obstáculos que aparecerem.”. Vozes femininas lhe vêm aos ouvidos, vozes doces, conhecidas. Lilith e Hatsumomo eram quem falavam naquelas cenas.
– Confuso entre duas? Sobre o que elas querem? – Diz uma voz desconhecida.  O aprendiz se vira rapidamente e depara com um ser desconhecido. Logo que o viu veio a sua mente a descrição de um centauro: meio homem, meio cavalo. Porém ele não era meio homem. Parecia ser meio elfo noturno. Apesar de bem mais forte que os outros elfos que Raitun viu por Midgard, o ser era com certeza meio elfo.
– Quem é você?
– Você não me perguntou o que, e sim quem. Interessante, isso não é muito comum. Meu nome é Ácades, sou um celtamorfo, e a minha tarefa é lhe aconselhar.
– Ah, verdade. Disseram isso antes. E como você aconselha os que vêm até aqui?
– Não sei lhe dizer exatamente como faço, apenas faço. Existem coisas que não podem ser explicadas ou deixariam de sê-lo. Meus conselhos talvez sejam uma dessas coisas. Existe algo melhor que conselhos para abrir a mente e clarear as ideias?
– Se existe, não conheço. Que venham os conselhos...
– Cuidado com os reflexos de um espelho, muitas vezes eles distorcem a realidade. Não posso lhe dizer mais que isso.
– Agradeço assim mesmo. Sei que isso é algum tipo de enigma, porém tentarei decifrar. – Diz enquanto o estranho ser da floresta negra se afasta rapidamente. Raitun volta ao templo para tomar chá e conversar um pouco com a sacerdotisa. E novamente no caminho do mundo, o aprendiz indaga à sua montaria sagaz e falante: – Kitsu, qual a próxima parada?
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