Capítulo 22 – Para o norte.
–“Sacerdotisas são interessantes”
hein? Pense mais alto, e mais forte, quem sabe um dia os pensamentos chegam até
ela? – Diz a raposa gigante, com o aprendiz montado em suas costas.
– Maldição, Kitsu, você pode ler
mentes?
– Mentes não, já impressões
espirituais... Acho que o reino todo já percebeu a sua.
– E isso é bom ou ruim?
– Mantenha o foco.
– Tá, perdão, melhor mesmo manter
o foco. Para onde estamos indo?
– Para o norte, e cansei de
brincar de correr como uma raposa comum, melhor se segurar. – E ele o faz
assustado com a já espantosa “velocidade de raposa comum”, não queria ver o que
viria a seguir. E mal conseguiu ver mesmo, a raposa concentra o mana em volta
de si, e passa literalmente como um raio de luz direto para o norte, assustando
um ou outro desavisado de Midgard.
– O que diabos você fez?
– Apenas achei as meninas. Olhe. –
Realmente, lá estavam Yumi, Hitch e outras mais que o aprendiz não conhecia.
Capítulo 23 – Um encontro não tão amigável
– Ah, finalmente o forasteiro...
Posso dar-lhe as boas vindas apropriadas? – Diz Hatsumomo, ainda presa na magia
de contenção.
– Ora, ora, hora do jantar. –Diz
o Lobo de Hatsumomo reaparecendo repentinamente.
– Cale-se filhote, você sabe
perfeitamente bem que não tem chances contra o nosso nível. – Responde Kitsu, e
Yumi interfere na conversa tentando aliviar as tensões.
– Ora, mostrem respeito, estamos
em um local sagrado. Por conta dessas infantilidades ela está ali. – Diz apontando
a Lampirerin – Quer perder seu orgulho de raposa se rebaixando àquele nível?
– Falando sobre ela... Quem é ela
mesmo? –Pergunta Raitun, observando a pessoa encapuzada a quem a Lorde se
referia
– Ah garoto, se fizerem a bondade
de me soltar talvez eu diga quem eu sou.
– Irei me arrepender disso. – Diz
a Arquiduquesa antes de libertar Hatsumomo. Esta se levanta, vai caminhando
lentamente até Raitun, em passos calmos, acompanhados pelos olhares atentos das
outras. Ao chegar mais perto do aprendiz esta passa a mão em seu rosto, tira
seu capuz e sua máscara. Isso estranhamente o deixa paralisado.
– Sou a Lampirerin Mizumi
Hatsumomo, Substituta temporária do Lupuoskirus. – Após a apresentação ela leva
os lábios ao pescoço de Raitun, e antes que encontre a pele do aprendiz, acaba
por tomar um choque. Assim é que seu plano acabara de falhar miseravelmente. Em
meio aquela trocas de olhares ela entra em um campo vazio em meio a uma
tempestade, ou melhor dizendo, uma projeção de seu espírito é que o faz. Ela(ao
menos na tal projeção) havia entrado no mundo interior de Raitun. Cada um tem
em seu interior um mundo privado, para onde corre quando precisa se refugiar ou
meditar. E o de Raitun e de certos guerreiros era compartilhado pelos espíritos
de suas armas. Guerreiro e arma eram apenas um, e o mundo em que viviam era
apenas um. Porém Hatsumomo acabara de invadir este mundo, a privacidade daquele
garoto. E a cena novamente se repete: Hatsumomo caminha até Raitun, e tenta
mordê-lo. O aprendiz imóvel pergunta a si mesmo apenas o porquê daquela mulher
estar ali em seu mundo, tentando fazer algo tão íntimo sem nem mesmo ter lhe
conhecido, apesar de que tanto ela quando Lilith pareciam ter algo diferente,
como se ele as conhecesse há muito tempo. Para a infelicidade de Hatsumomo, a
sua mordida é interrompida por um par de mãos que estrangulam aos poucos seu pescoço.
– Quem diabos sois tu, para achar
que tem direito de entrar em nossos domínios e encostar tua boca impura em
nosso mestre? – Dizem as gêmeas em uníssono, em um assustador uníssono.
Apertaram com tanta força que forçaram Hatsumomo a se desfazer em nuvem de
chuva e reaparecer a uma distância que ela mesma julgou segura.
– Então ainda não fizeram o
contrato, que grave... O que será que acontece se eu o fizer mesmo?
– Retire-se de nossa presença,
existência corrompida.
– Ora, não mesmo. Isso se tornou
algo bem mais interessante do que já era antes. – diz a invasora com um sorriso
angelical.
– Mestre, liberte-nos. Com sua
permissão iremos retirar essa presença impura que desequilibra nosso mundo.
– Pobre garoto. Indefeso, em
choque, e sem entender o que está acontecendo. Só tenho uma forma de responder
às suas perguntas e às “grandes espadas de fio negro”. – a aura dela
repentinamente se torna mais forte, e ela continua: – A chuva cai, e o deus dos
céus chora. Quando os espíritos vêm, a deusa do submundo ri. Traga as almas,
Ceifadora! – e com estas palavras um mana escuro toma conta da foice da mulher.
Esta curva mais a lâmina e aumenta um pouco de tamanho. E assim ela parte para
cima das gêmeas, que não conseguem fazer muita coisa além de bloquear ou esquivar
com dificuldade os golpes. Finalmente seu apelo é atendido, e os olhos da
raposa aprendiz despertam em meio a trovões e a uma aura que fortalece repentinamente.
– Como diabos um mero aprendiz
tem tanto poder? É quase equiparável ao meu? Imperdoável! – Pôde-se notar mais
um detalhe da Ceifadora nesse momento. Uma corrente ligava a arma à sua dona, e
graças a isso e a consciência que ela tinha em ter uma arma extensível ela a
lança em Raitun. Novamente para sua infelicidade, raposas apenas aparentam ser
frágeis. O aprendiz apara o golpe com uma das katanas, e com a outra parte a corrente.
– Temo lhe dizer isso,
Senhorita... Hatsumomo, não é? Raposas realmente odeiam visitantes não
autorizados em suas tocas, mas especialmente para você, direi minha frase
especial de boas-vindas. – diz se pondo em posição de ataque. – Quatro ventos
sopram em minha defesa, todos os raios destroem junto à minha lâmina. Destrua,
Cumulus Nimbus! –Ao terminar a frase as gêmeas se misturam ao vento, e se
transformam e uma única guerreira com vestes similares as de Raitun, porém
cores invertidas. Suas katanas diminuem um pouco de tamanho, e tem uma nítida
corrente de raios percorrendo suas lâminas. Falando na lâmina, esta fica branca
como a neve em volta do Articus. E a guerreira com um chute afasta
consideravelmente a substituta. Após o chute, Cumulus Nimbus junta mana à
eletricidade da tempestade na ponta de uma katana, e envia tudo para a sacerdotisa
fazendo um movimento de corte que despeja uma descarga de mana e eletricidade
na invasora. A invasora se desfaz por completo dessa vez, junto com sua arma.
– Ela morreu em um golpe?
– Não a matamos, – dizem as
gêmeas, novamente separadas, porém com as katanas ainda transformadas. – apenas
a expulsamos de nossos domínios.
– Irmã, o contrato deve ser feito
agora, não podemos arriscar esperar outro acontecimento do tipo.
– Sobre que contrato vocês tanto
falam?– diz Raitun, fazendo as katanas voltarem ao normal e acalmando seu mana.
– Iremos explicar, confie em nós.
– diz Cumulus. Cada uma segura uma mão do aprendiz com a boca, e colocam um
dedo próximo a boca dele, pedindo que ele morda as duas simultaneamente. Após a
troca mútua de mordidas e a intensificação da tempestade, elas mordem o pescoço
do seu mestre, e guardam suas katanas nas bainhas que ele carrega.
– Terminamos.
– Agora expliquem-se.
– Fizemos um contrato de almas.
Com este contrato, lhe juramos obediência e cooperação mútua, como um só guerreiro.
Na condição de mestre, você dá as ordens, e não é obrigado mais a cumprir
ordens. Não contra sua vontade.
– Por que tanta urgência?
– Não há urgência, mestre, isso
foi um tanto atrasado. Deveria ter sido feito antes, para que insetos não lhe
mordessem primeiro. Ela poderia forçá-lo a obedecer, e nós por conseqüência
também teríamos o mesmo destino. Agora não mais. – Após isso, o “transe” dos
dois termina, e Hatsumomo se afasta e some, não antes de fazer uma mesura.
– Perdão pela falta de controle,
raposinha. Até a próxima.
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