Aprender a escrever...

Aprender a escrever só se faz escrevendo. E só aprendemos bem aquilo que para nós tenha poesia.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Projeto - Capítulos 22/23



Capítulo 22 – Para o norte.


–“Sacerdotisas são interessantes” hein? Pense mais alto, e mais forte, quem sabe um dia os pensamentos chegam até ela? – Diz a raposa gigante, com o aprendiz montado em suas costas.
– Maldição, Kitsu, você pode ler mentes?
– Mentes não, já impressões espirituais... Acho que o reino todo já percebeu a sua.
– E isso é bom ou ruim?
– Mantenha o foco.
– Tá, perdão, melhor mesmo manter o foco. Para onde estamos indo?
– Para o norte, e cansei de brincar de correr como uma raposa comum, melhor se segurar. – E ele o faz assustado com a já espantosa “velocidade de raposa comum”, não queria ver o que viria a seguir. E mal conseguiu ver mesmo, a raposa concentra o mana em volta de si, e passa literalmente como um raio de luz direto para o norte, assustando um ou outro desavisado de Midgard.
– O que diabos você fez?
– Apenas achei as meninas. Olhe. – Realmente, lá estavam Yumi, Hitch e outras mais que o aprendiz não conhecia.

Capítulo 23 – Um encontro não tão amigável


– Ah, finalmente o forasteiro... Posso dar-lhe as boas vindas apropriadas? – Diz Hatsumomo, ainda presa na magia de contenção.
– Ora, ora, hora do jantar. –Diz o Lobo de Hatsumomo reaparecendo repentinamente.
– Cale-se filhote, você sabe perfeitamente bem que não tem chances contra o nosso nível. – Responde Kitsu, e Yumi interfere na conversa tentando aliviar as tensões.
– Ora, mostrem respeito, estamos em um local sagrado. Por conta dessas infantilidades ela está ali. – Diz apontando a Lampirerin – Quer perder seu orgulho de raposa se rebaixando àquele nível?
– Falando sobre ela... Quem é ela mesmo? –Pergunta Raitun, observando a pessoa encapuzada a quem a Lorde se referia
– Ah garoto, se fizerem a bondade de me soltar talvez eu diga quem eu sou.
– Irei me arrepender disso. – Diz a Arquiduquesa antes de libertar Hatsumomo. Esta se levanta, vai caminhando lentamente até Raitun, em passos calmos, acompanhados pelos olhares atentos das outras. Ao chegar mais perto do aprendiz esta passa a mão em seu rosto, tira seu capuz e sua máscara. Isso estranhamente o deixa paralisado.
– Sou a Lampirerin Mizumi Hatsumomo, Substituta temporária do Lupuoskirus. – Após a apresentação ela leva os lábios ao pescoço de Raitun, e antes que encontre a pele do aprendiz, acaba por tomar um choque. Assim é que seu plano acabara de falhar miseravelmente. Em meio aquela trocas de olhares ela entra em um campo vazio em meio a uma tempestade, ou melhor dizendo, uma projeção de seu espírito é que o faz. Ela(ao menos na tal projeção) havia entrado no mundo interior de Raitun. Cada um tem em seu interior um mundo privado, para onde corre quando precisa se refugiar ou meditar. E o de Raitun e de certos guerreiros era compartilhado pelos espíritos de suas armas. Guerreiro e arma eram apenas um, e o mundo em que viviam era apenas um. Porém Hatsumomo acabara de invadir este mundo, a privacidade daquele garoto. E a cena novamente se repete: Hatsumomo caminha até Raitun, e tenta mordê-lo. O aprendiz imóvel pergunta a si mesmo apenas o porquê daquela mulher estar ali em seu mundo, tentando fazer algo tão íntimo sem nem mesmo ter lhe conhecido, apesar de que tanto ela quando Lilith pareciam ter algo diferente, como se ele as conhecesse há muito tempo. Para a infelicidade de Hatsumomo, a sua mordida é interrompida por um par de mãos que estrangulam aos poucos seu pescoço.
– Quem diabos sois tu, para achar que tem direito de entrar em nossos domínios e encostar tua boca impura em nosso mestre? – Dizem as gêmeas em uníssono, em um assustador uníssono. Apertaram com tanta força que forçaram Hatsumomo a se desfazer em nuvem de chuva e reaparecer a uma distância que ela mesma julgou segura.
– Então ainda não fizeram o contrato, que grave... O que será que acontece se eu o fizer mesmo?
– Retire-se de nossa presença, existência corrompida.
– Ora, não mesmo. Isso se tornou algo bem mais interessante do que já era antes. – diz a invasora com um sorriso angelical.
– Mestre, liberte-nos. Com sua permissão iremos retirar essa presença impura que desequilibra nosso mundo.
– Pobre garoto. Indefeso, em choque, e sem entender o que está acontecendo. Só tenho uma forma de responder às suas perguntas e às “grandes espadas de fio negro”. – a aura dela repentinamente se torna mais forte, e ela continua: – A chuva cai, e o deus dos céus chora. Quando os espíritos vêm, a deusa do submundo ri. Traga as almas, Ceifadora! – e com estas palavras um mana escuro toma conta da foice da mulher. Esta curva mais a lâmina e aumenta um pouco de tamanho. E assim ela parte para cima das gêmeas, que não conseguem fazer muita coisa além de bloquear ou esquivar com dificuldade os golpes. Finalmente seu apelo é atendido, e os olhos da raposa aprendiz despertam em meio a trovões e a uma aura que fortalece repentinamente.
– Como diabos um mero aprendiz tem tanto poder? É quase equiparável ao meu? Imperdoável! – Pôde-se notar mais um detalhe da Ceifadora nesse momento. Uma corrente ligava a arma à sua dona, e graças a isso e a consciência que ela tinha em ter uma arma extensível ela a lança em Raitun. Novamente para sua infelicidade, raposas apenas aparentam ser frágeis. O aprendiz apara o golpe com uma das katanas, e com a outra parte a corrente.
– Temo lhe dizer isso, Senhorita... Hatsumomo, não é? Raposas realmente odeiam visitantes não autorizados em suas tocas, mas especialmente para você, direi minha frase especial de boas-vindas. – diz se pondo em posição de ataque. – Quatro ventos sopram em minha defesa, todos os raios destroem junto à minha lâmina. Destrua, Cumulus Nimbus! –Ao terminar a frase as gêmeas se misturam ao vento, e se transformam e uma única guerreira com vestes similares as de Raitun, porém cores invertidas. Suas katanas diminuem um pouco de tamanho, e tem uma nítida corrente de raios percorrendo suas lâminas. Falando na lâmina, esta fica branca como a neve em volta do Articus. E a guerreira com um chute afasta consideravelmente a substituta. Após o chute, Cumulus Nimbus junta mana à eletricidade da tempestade na ponta de uma katana, e envia tudo para a sacerdotisa fazendo um movimento de corte que despeja uma descarga de mana e eletricidade na invasora. A invasora se desfaz por completo dessa vez, junto com sua arma.
– Ela morreu em um golpe?
– Não a matamos, – dizem as gêmeas, novamente separadas, porém com as katanas ainda transformadas. – apenas a expulsamos de nossos domínios.
– Irmã, o contrato deve ser feito agora, não podemos arriscar esperar outro acontecimento do tipo.
– Sobre que contrato vocês tanto falam?– diz Raitun, fazendo as katanas voltarem ao normal e acalmando seu mana.
– Iremos explicar, confie em nós. – diz Cumulus. Cada uma segura uma mão do aprendiz com a boca, e colocam um dedo próximo a boca dele, pedindo que ele morda as duas simultaneamente. Após a troca mútua de mordidas e a intensificação da tempestade, elas mordem o pescoço do seu mestre, e guardam suas katanas nas bainhas que ele carrega.
– Terminamos.
– Agora expliquem-se.
– Fizemos um contrato de almas. Com este contrato, lhe juramos obediência e cooperação mútua, como um só guerreiro. Na condição de mestre, você dá as ordens, e não é obrigado mais a cumprir ordens. Não contra sua vontade.
– Por que tanta urgência?
– Não há urgência, mestre, isso foi um tanto atrasado. Deveria ter sido feito antes, para que insetos não lhe mordessem primeiro. Ela poderia forçá-lo a obedecer, e nós por conseqüência também teríamos o mesmo destino. Agora não mais. – Após isso, o “transe” dos dois termina, e Hatsumomo se afasta e some, não antes de fazer uma mesura.
– Perdão pela falta de controle, raposinha. Até a próxima.

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