Aprender a escrever...

Aprender a escrever só se faz escrevendo. E só aprendemos bem aquilo que para nós tenha poesia.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulo 13

Capítulo 13 - Caos


Yumi estava encenando uma peça onde uma sacerdotisa e um guerreiro apaixonaram-se em meio a uma guerra. Ela era a sacerdotisa, e Sigfried o guerreiro. Havia uma cena onde eles deveriam se declarar e se beijar, e nessa cena (que estava quase se concluindo) ocorre uma mudança inesperada no roteiro: três homens de capuz preto pulam para o palco.
– Ora, suposto poderoso casal, não sabeis vós que é proibido o que pretendes? Diz um dos três
– Quem és tu, e o que podes falar com tal autoridade? Tens a coragem de entrar em assuntos alheios, porém por que esta não está contigo quando deves revelar sua face? Responde o meio orc, em um tom desafiador e agressivo.
– Se é isso que o perturba, reles inseto, sua inútil preocupação será dissipada. É o que retruca ele, aumentando de tamanho e modificando rapidamente sua forma. Chifres, escamas, asas aparecem. As criaturas tentam fugir, causado um enorme tumulto. O homem encapuzado mostra ser um dragão, e não qualquer um: era Ayenth, que voltara ainda mais assustador. Pensando logicamente, os outros dois só poderiam ser Loth e Pyth. As baforadas, porém não vieram primeiramente deles.
– Definitivamente... Vocês ao sairão ilesos daqui. Não, não, não, não, não, não...  Comenta Sigfried.
– Não após destruírem meu festival... Assustar a todos... E impedir eles dois de se beijarem! Grita Louise furiosa em plena metamorfose. Ela também retornou à sua forma de dragão... E a primeira baforada foi literalmente a dela. Apesar de ser teoricamente mais fraca do que qualquer dos três lendários dragões da lenda, ela mantêm a luta em um nível consistente graças à ajuda dos dois Lordes.
Enquanto isso os aiodromes do casal restante começam a brilhar da forma mais intensa possível, até finalmente conseguirem acordar os dois.
– Sir Raitun. Lady Lilith, sérios problemas! Os dragões voltaram, e Louise e os dois lordes não poderão derrotá-los sem sua ajuda!
– Está insinuando que eles não têm poder suficiente?
– Não, confirmando aquilo que vimos: só poder sagrado funciona neles. E O de Louise não é tão forte. Além disso, ela provavelmente se transformou em dragão, tem mais poder nessa forma.
–Você sabe que quanto mais usar seu poder, mais rapidamente a marca toma conta do seu corpo.
– Sabemos também sobre os meus deveres, não sabemos? O garoto responde apenas com um suspiro.
– Yumi não poderia erguer um campo de repulsão?
– Sobre todo o reino? Impossível manter isso para sempre, seria algo que precisaria de uma quantidade insanamente grande de mana. Ah, falando em arquiduquesa, preciso dizer algo a respeito dela.
– E o que seria?
– Não deveria falar-lhe tal coisa, mas prefiro te machucar agora enquanto posso te curar, do que fazer o mesmo em escala maior e sem cura depois. Sei que nesse pouco tempo você a considerou muito, como a outras pessoas, eu entendo isso, ela lhe recebeu educadamente, lhe deu vestes e nome, mas... Infelizmente, para ela isso foi apenas uma missão, era apenas a função dela. Você para ela não é alguém tão especial, porém não é tão comum... Em resumo, não a superestime. Aliás... Não superestime nenhum contato. Trata-se isso como informação confidencial, ok? E lembre-se de manter-se como um espelho, único como um espelho, porém ainda um espelho.
– Entendido. Irei separar raposas e falsas raposas da melhor maneira possível.
– Você vai ajudar alguém que não te considera especial?
– Sim, vou. Ajudaria até os dragões e seres das trevas caso eles pedissem, por favor.
– Desse jeito? Diz a sacerdotisa em meio a risos, em meio às roupas sendo colocadas. Raitun ri e começa a fazer o mesmo. Vestidos e revigorados, espreguiçados, arrumados, se beijando, sorriem e o aprendiz pergunta:
 –Vamos?
– Vamos.
– Saem lentamente da mansão, observando o caos que rola solto pela cidade. A praça principal e o palco em chamar, criaturas de todos os tipos, tamanhos, formatos correndo para todos os lados. Andam naturalmente, praticamente apreciando aquilo. Parecem... Excitados com aquilo. Chegam ao local onde as lutas ocorriam sorrindo.

– Começaram a peça sem os atores principais?
– Que feio, não é Lilly? Completa o aprendiz.
– Mui feio coisa fofa, muito feio mesmo.
–Então, hora de fatiar os dragões. Só aí Raitun se dá conta do importante fato que não é nada bom: ele não estava com as armas.
– Raitun...
– É... As armas ficaram na raposa, só invocando-a novamente.
– Sobrevivam antes, insetos! Ruge Pyth, atacando os dois com uma parada. O ataque é aparado com o aprendiz, por uma das mãos. Este olha de lado e aponta dois dedos da mão livre para o dragão. As unhas que seguravam a pata crescem e perfuram as escamas, e o aprendiz recita:
– Arte secreta da destruição, raio branco! E recitando isso atira realmente um raio branco, saído da ponta dos dois dedos, atingindo em cheio e perfurando o olho direito do dragão. Em meio aos urros de dor da criatura bestial o garoto levanta e joga para longe o dragão com as duas mãos. Assim ele o tira por um tempo de combate, o jogo para fora da cidade praticamente. Os olhos amarelos encontram os da sacerdotisa, e ambos escutam a voz do meio-orc.
– Kagutsuchi lhes deu uma grande benção.
– Hora de aprender um pouco mais garoto... – Diz Loth, se elevando a uma determinada altura, e de lá lançando uma rajada de fogo nos recém-chegados. Fazendo alguns movimentos e apontando as palmas das mãos para o alto, Lilith prepara a defesa.
– Primeiro elemento: água. Daisuijin Heki! Proferindo isso a elfa levanta para sua proteção uma barreira semi-esférica de água completamente efetiva contra o ataque. O dragão desce em vôo rasante enquanto ela continua os encantamentos.
– Quatro ventos, quatro direções, quatro garras te prenderam, assim te manterão. Arte da contenção, Prisão em 37 pilares! A arte dos 37 pilares, como o nome diz, prende o inimigo com 37 pilares gigantescos descidos dos céus diretamente sobre o corpo do alvo. Com este devidamente preso, ela dá continuação aos encantamentos.
– Oh, grande imperador! As nove caudas despertaram! A sabedoria me é concedida, o espírito se torna um com o corpo. Fonte da vida, chama que não queima, eleva-se ao poder máximo! Arte da destruição, canhão de fogo gélido! Esse é executado com as duas palmas das mãos. Há um feitiço do mesmo tipo, em menor escala, que é feito com apenas uma das mãos. Logicamente, menor dano. Das palmas das mãos é atirada uma verdadeira rajada de fogo azul no adversário, fogo que lembra o fogo das raposas. Fogo que na situação provoca uma explosão ao atingir o alvo. Explosões provocam barulho e...? Fumaça. O terceiro [ou o primeiro, afinal ele quem se revelou antes] dragão se aproveita da fumaça para alçar vôo, e é quando o casal finalmente resolve voltar às armas. Lilith é abraçada novamente por Raitun, e recorre mais uma vez ao uso da entidade invocada e não invocada, o uso da Ancient mana. A entidade materializa seu arco, refletindo a atitude de Lilith, e surge o problema: como matar três dragões se diante do primeiro eles precisaram usar todo o seu poder? O entrosamento entre os dois responde a pergunta. Era como se ela pudesse extrair mais poder de Raitun, e como se Raitun pudesse dar mais poder a Lilith. Era o que sentiam. O garoto materializa a máscara novamente em seu rosto (ela não estava com ele, parecia ter ficado na mansão) e faz aparecer três caudas brancas, mantendo ainda assim sua forma humana. A máscara parecia até parte de seu corpo, as caudas certamente eram parte de seu corpo. Após isso diz a Lilith mentalmente:
– “Você tem 37 segundos.”
– “Então, vamos destruí-los em 30.
– A entidade aponta seu arco e começa a disparar uma rajada massiva de flechas em Ayenth, que desvia algumas, e é atingido de raspão por outras. Rapidamente a sacerdotisa muda o alvo e destroça Pyth, tendo a sacerdotisa, a inteligência de dissipar a fumaça usando uma flecha. Loth foi outro alvo fácil. Apesar de não estar mais preso pela técnica dos pilares, estava atordoado com a explosão. Faltava um, e outro problema surge: apesar do tamanho, ele era estupidamente rápido. O trio que lutou anteriormente e agora se resumia a observar a “luta” é feliz em rapidamente bolar uma estratégia. Talvez ele estivesse apenas tomando fôlego ou esperando o momento certo. O que menos importa em uma luta é como se derrota o inimigo, no final das contas (porém é a parte mais interessante de se contar).
Louise ainda estava em sua forma de dragão. E com essa forma ela tenta imobilizar Ayenth agarrando-o com patas e dentes. Aiodromes fazem uma redoma em volta dos dois, o meio orc joga a Gran em algum ponto da redoma, como que fazendo uma marcação em um ponto especial.
– Atirem! Gritam os três. E a entidade, sabendo que seu tempo estava acabando, atira sua última flecha dizendo com uma voz assustadora.
– Greater Arrow of Light! Assim como o nome, o ataque era poderoso. E a enorme flecha de luz tem efeitos bem distintos nos dois dragões que ela atravessou: enquanto a flecha regenera Louise, começa a desintegrar Ayenth. O tempo havia sido tão bem calculado que junto com o dragão se desintegram também a máscara de Raitun e a entidade invocada por Lilith.
Antes de ir-se completamente, o dragão ainda encontra forças para dizer:
–Ah, malditas serão as raposas. Maldita também és tu, sacerdotisa marcada. Seus esforços inúteis apenas atrasam a vinda do Darklord. Ele virá e trará consigo a escuridão. Vocês dois serão os primeiros a serem engolidos pelo lobo negro.
–Não enquanto eu tiver flechas para destroçar o lobo. Após dizer isso e esperar o dragão sumir, Lilith se vira para agradecer a Raitun. Esteve estava caído no chão, novamente exausto.
– Achamos outra coisa que esgota sua energia, hein coisa fo-
A sacerdotisa interrompe a frase, leva a mão ao ombro e a voz aos quatro cantos do reino com um grito de dor, caindo de joelhos em terra. Os outros podem não ter percebido, mas Raitun viu que a marca crescera. Mesmo exausto e sem forças, ele de alguma forma se senta e a abraça.

– Não quero seus dias terminem na sombra e sofrimento. E farei o que puder para que isso seja mudado. A luz voltará pra você, nem que ela seja a minha. – diz Raitun, concentrando seu mana nas mãos e usando as técnicas de cura aprendidas com a elfa branca, Alexis.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulo 12

Capítulo 12 – O festival


O vento começa a soprar de forma diferente, anunciando a chegada do casal mais esperado. Raios e trovões param todos. Parecia que uma tempestade levava toda a distração para longe, e focava a atenção neles. A entrada dos dois até o corredor a parte principal cala uma cidade inteira.
– Ora, estamos em um festival, não em um desfile. Deixem as estrelas para os astrólogos e os heróis para os historiadores, vamos nos divertir! Vamos, bebam e divirtam-se! Diz Alexis, finalmente quebrando o silêncio e o clima de expectativa. Após isso tudo retorna aos poucos ao estado que estava antes da chegada dos dois.
– Uh, agradeço. Lembra-se de nós? Indagam os dois (no caminho resolveram usar máscaras. E mesmo assim causaram um enorme alvoroço. As máscaras eram ovais e brancas, assim como algumas usadas em apresentações orientais de teatro. Cobrem completamente seus rostos. A de Raitun lembrava uma raposa, enquanto a de Lilith remetia a uma face triste.). Após uma breve conversa com a sacerdotisa eles se misturam à multidão e começam a olhar e participar do festival, apreciando as barracas e brincadeiras. Param em algumas barracas para comer, em outras para ver os outros brincando.
A todo o momento Raitun diz estar sendo alertado por cheiros estranhos (e raposas confiam muito nos cheiros) E Lilith confirma estar sentindo algo diferente no ar. Disse também que via por vezes pessoas de capuz preto que pareciam estar seguindo–os (e elfos confiam muito nos olhos). Porém os dois acabam se entretendo com o festival e na alegria da conversa. Nos sorrisos mútuos. No clima festivo. E tudo fazia com que eles esquecessem rapidamente tudo e todos, menos um ao outro.
Havia um palco na praça principal, onde aconteciam encenações, peças de teatro, apresentações que contaram histórias de dragões, heróis e inúmeras outras coisas.
O que chamou a atenção dos dois e fez muitas pessoas rir aconteceu durante uma apresentação de uma dupla de comédia. Esta era comporta por um elfo vestido de bobo chamado Jefensael e um humano chamado Alek, que parecia uma criança de cinco anos crescida de mais [e sensata de menos, segundo o aprendiz.]. Apesar de ser uma dupla de comédia, a única graça vista foi observar e apreciar como eles eram ridiculamente ruins em contar piadas. Isso se tornou uma comédia na sua pura essência. Em uma das piadas eles quase foram pra o outro mundo [sem transporte de volta, lógico]. “Quantos gnomos são necessários pra acender uma lamparina? Não vou nem contar, se os anões não conseguem imagina os gnomos!”. Lógico que certas pessoinhas não gostaram nada das piadinhas. Porém o que uniu todos em um riso foi quando o humano contou uma piada terrível e a completou dedicando-a a sua “mana sacerdotisa”. A “mana” era Alexis. Está, aliás, respondeu gritando (já em meio a risadas) “Não dedique essas piadas idiotas a ninguém! E nunca mais me chame assim!”
Yumi teve compaixão, mas acabou sendo contagiada pelo riso. Algumas pessoas (muitas, melhor dizendo) já haviam saído dali por causa da “falta de carisma” da dupla. Apenas se perguntaram o porquê daqueles risos, ou devem ter pensado que contaram a piada do paladino, que beberam de mais e coisas do tipo. Enfim, muitas pessoas não ligaram. Muitas outras criaturas fantásticas apareceram. Celtamorfos, alguns poucos elfos noturnos, criaturas não-identificáveis, youkais diversos, muitos visitantes com máscaras lúdicas compradas ali mesmo. Hana começara a ensinar sobre música, e depois fez uma apresentação no palco. Ela sai após isso, dando lugar a Hitch. Esta faz algo do tipo, porém usa magia em vez de música. O ancião fez mais uma edição da “caça à esquina dos ventos”, mas parece que os ventos a sopraram para longe, ninguém nunca a encontra nesses eventos. Enquanto isso Raitun acompanha Lilith pra cima e pra baixo pelo festival. Esta para em frente à mansão da Arquiduquesa e faz um sinal (logo após entrar) para que Raitun entre.
– Podemos realmente? Fomos convidados?                            
– Não, mas temos permissão. – Diz ela, adentrando e puxando o aprendiz pela mão. A mansão parecia diferente da última vez, parecia que os corredores haviam mudado de lugar, que algumas portas haviam mudado de estilo. O que nunca mudava era o fluxo de aiodromes pelo lugar. Após passar por estranhos corredores, finalmente os dois chegam a algum lugar. Um pequeno apostando em estilo japonês. Lembra um aposento do templo. Estava apenas com uma mesa no meio, e as paredes tinham inúmeras pinturas decorativas de raios, árvores, animais e youkais. A sacerdotisa se deita, como que completamente exausta, e demonstra todo o cansaço.
– Raitun...
– Sacerdotisa?
– Traga sake!
– Que?! Você já bebeu duas garrafas, fora o resto das guloseimas...
– Se não souber o caminho da cozinha, deixe ele te guiar- aponta o aiodrome.
– Sim senhora, Grande Lady Lilith. “É melhor levar algo para acompanhar o sake” pensa ele, andando pelos incontáveis corredores, que estranhamente lhe parecem maiores em número e extensão. Corredores, corredores, corredores, corredores tortos, retos, curvos, inclinados, como que querendo explodir a paciência do aprendiz.
– Lady Lilith está enviando uma mensagem: “QUERO BEBEEEEEEEEEER!” diz o aiodrome após certo tempo.
–Precisava reproduzir a mensagens com os detalhes de timbre e altura? Retruca, com a mão no ouvido e um olhar de apreensão dirigido ao pontinho de luz. Continua assim, alienado da noção de espaço por um breve momento que lhe custa uma queda por um buraco circular. Uma espécie de poço profundo. Ele não descobre se o poço tem fundo, saca uma katana e a finca em uma parede. Começa a subir, até que algum espírito passante o faz perder a concentração e cair novamente, até bater com as costas no “fim do poço”: uma sala sem nada. Melhor dizendo, sem mobília, afinal havia algo lá. Cabeças voadoras de caveiras flamejantes atravessavam constantemente a parede da sala fechada e vazia. O garoto atravessa a sala, com menos paciência a cada passo. Com um som estranho sendo feito a cada passo, som que por sinal era irritante em sua concepção de sons. Sons mais rápidos, passos rápidos e a paciência se esvaindo como areia de relógio. E tudo chega ao fim, o espaço da sala, a paciência de Raitun, e a parede explodida por uma de suas magias. Finalmente a dispensa, finalmente a cozinha! Infelizmente ainda um longo e tortuoso caminho de volta. Ele não sabe o que aconteceu com a mansão da Arquiduquesa, mas definitivamente não é o lugar para se andar sem um mapa. Para sua sorte o aiodrome lhe indica os caminhos e ele não se aliena novamente. Após duas longas caminhadas lotadas de coisas estranhas e curvas impensáveis, o aprendiz entra novamente no aposento “seguro”, com sake e aperitivos, com suas habilidades de entreter. Começa a usar cada uma que fora aprendida anteriormente com a grande Sayumi. Cantar, dançar, servir, conversar, encantar, cuidar.
– Você realmente evoluiu...
–Graças a você, sim.
– Bem... Nosso tempo está acabando, correto?
– Sim... Ainda temos coisas a dizer... Correto?
– Não sei por quanto tempo estaremos assim. Se você teremos a oportunidade de fazer isso de novo. Fico feliz por ter feito você evoluir.
–Também estou feliz por isso, triste por aquilo. Temos mesmo de fazer essas despedidas formais e problemáticas e melancólicas e...
– Tenho pelo menos o direito de pedir isso?– suspira a sacerdotisa.
– Tem...
– Vamos resolver logo essa despedida.
– Como resolveremos isso?
– Com você dizendo o que diabos você quer dizer de uma vez por todas.
– Eu quero que você me ensine uma última coisa.
–E o que seria?
–Quero que você me ensine... A amar... A sentir aquela sensação novamente... Ficar nos seus braços em cada instante que tivermos...
A sacerdotisa abraça o aprendiz, olhando-o nos olhos, mantendo os dois rostos próximos a ponto dos dois sentirem a respiração do outro, e em diz em tom meigo como sempre.
– Achei que nunca iria pedir... Desde que começamos nossa história esperava por isso.
– E depois que acabar a história? –suspira– Terei de voltar ao meu mundo algum dia...
– Mal confessa ter esperanças no amor e já pensa no dia da separação... Tinha mesmo que ser a perfeição em forma de aprendiz.
– Não fuja do foco.
Manterei o foco... Assim como meu arco o faz. Não sei o quanto irei durar com essa marca, diz ela, pondo a mão no lugar. Não faço ideia de quando você terá de voltar. O fato é que um dia isso irá sumir... Sou uma elfa que viveu muito, mas o dom da clarividência não me foi confiado. Porém tenho força, destreza e intuição, e ela me diz isso. Então, quero que façamos uma promessa. Não importa em que circunstância, não nos esqueceremos de tudo que aconteceu e vai acontecer entre nós, de tudo que passamos aqui.
– Farei o que puder para mantê-la. Essa será a nossa promessa, diz o aprendiz. Após acordar do “transe”, aproxima o rosto da elfa, e encosta os lábios na boca dela, falando na mente dela um tentador “como fazemos para selar essa promessa?”.
Um longo e profundo beijo começa. Suas respirações conversam. Suas línguas sem entrelaçam em um misto de desejo, carinho, volúpia. Como se não fossem suficiente os olhares conversando tão eloqüentes e precisos quando um debate intelectual, a palavra falada vem à tona.
– Já que nossos segredos não serão esquecidos, que tal lembrarmos-nos do início da conversa e começarmos a “aula”
– Ah... Aula - Diz a sacerdotisa. A elfa sempre elogiada por sua força fora do comum agora estava indefesa e entregue ao forasteiro que começara a mordiscar levemente seu pescoço. –... Isso é avidez em aprender... Raposas gostam mesmo de morder no fim de tudo... Diz palavras desconexas a cada toque, cada toque e carícia se intensificam, O que acontece após isso: Informação confidencial (ou seja, todos sabem ou acabam por descobrir alguma hora.). E por fim os dois dormem devidamente cobertos, juntos e felizes em ter completado mais uma etapa. O que eles não lembraram foi que o show estava prestes a começar

terça-feira, 6 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulo 11

Capítulo 11 – Brincadeiras


No outro dia, após o desjejum o garoto se dirige ao templo de Louise. Os dois se focam no festival, sem uma palavra sobre Lilith. Aliás, com poucas palavras.
– Você é realmente um dragão transformado em mulher ou uma mulher que se transforma em dragão?
– Sou o contrário de você. Um dragão que se transforma em humano. Dragões de alto nível conseguem manter essa forma por um bom tempo.
– Então por que precisa da minha ajuda?
– Sou uma mera sacerdotisa agora. Se eu usar minha forma de dragão e entrar pela porta da frente de Midgard, vou acabar assustando alguém. Se eu entrar como uma sacerdotisa que é forte como um dragão, assustarei alguém. É aí que você entra.
– Uma raposa gigante é algo gracioso e de menos impacto. Entendo. Então eu vim só pra carregar isso tudo? Diz apontando para as coisas que juntaram.
– Preciso mesmo responder? O aprendiz se transforma em raposa e a sacerdotisa começa a empilhar e arrumar pacotes em suas costas. Sai andando na frente, seguido pela raposa, e algum tempo depois chegam à cidade. Após ter o peso retirado de suas costas o aprendiz volta ao normal. Assim o aprendiz, a sacerdotisa e as raposas começam a decoração de Midgard, sendo ajudados por moradores e aiodromes. A arquiduquesa aparece pouco tempo depois, ajuda em algumas coisas mais leves. Os seres do reino adornam toda a cidade com balões japoneses, fitas, barracas de brincadeiras e guloseimas, placas. Louise pede uma pausa para consultar seu almanaque, que seguia tão a risca quanto um islâmico a um alcorão.
– Atenção nas luzes, e cuidado com as máscaras, disse Louise.
– Tá... Como assim Louise?
– Não sei, assim que interpretamos o almanaque. Ele sempre lhe dá uma “charada” para o dia, respondeu Yumi.
– Revisem os equipamentos! Grita Raitun. Todos começam a acatar a ordem o mais rápido que podem. Tempos depois acabam dando-se conta da falta dos fogos de artifícios e dos cata-ventos. E logo começa um tumulto, pois se duas coisas são de valor em um festival são fogos de artifício e cata-ventos. O alvoroço de todos é intenso, comentários, lamentos, frases de seres estupefatos. O garoto indaga: Alguma ideia? Antes da resposta ele continua sua linha de pensamento, se ajoelhando. – Atenderei como for possível à sua decisão e necessidades. Como iremos proceder?
– Silêncio! Não consigo pensar com esse alvoroço que vocês fazem...  Resmunga Yumi, referindo-se aos seus aiodromes e aos outros seres.  O aiodrome pessoal dela toma a palavra, com algo útil como sempre.
–Mestra, temos evidência claras de que os Volladnes são os culpados.
– Mas será possível?! Em nosso evento mais importante os idiotas vêm me aprontar a velha brincadeira de esconder coisas.
–Estamos procurando o paradeiro dos artefatos, porém até agora não encontramos nada.
– Volladnes... Aquelas criaturas invisíveis que tem mania de fazer brincadeiras? Bem, vou ajudar, diz Raitun
– Sozinho?
– Ora minha cara... – e ao dizer aquilo o aprendiz chama raposas de volta, e invoca outras e outras mais. – Suficiente?
– Aceitável.
– É relativamente razoável, diz Louise. O aprendiz se junta ao bando de raposas como uma delas e todos começam a procurar junto de aiodromes pelos objetos desaparecidos. Acreditavam que os aiodromes poderiam perceber/ver os seres invisíveis e ajudar a colocá-los nos eixos. Após certo tempo de varredura Raitun reaparece na praça central de Midgard, em frente à Louise. Em seguida aparecem suas raposas com os objetos roubados.
– Até que raposas são eficientes... Não é Louise? Diz Yumi
–Tenho que concordar. Que tal continuarmos? Diz Louise. Raitun concorda com a cabeça e eles retomam os preparativos. Após tudo estar terminado Louise e as outras duas sacerdotisas (Alexis e Mary) junto de Yumi se posicionam nas entradas da cidade, juntas de algumas elfas, para fazer a recepção adequada dos visitantes. Após entrar e serem recebidos por elas, os recém chegados passavam por um corredor de cata ventos que dava acesso ao meio da cidade, onde a festa fervia. Enquanto caía a noite e Midgard começava a lotar, o aprendiz se dirige ao tempo para de Lilith. E se depara com esta mesma sacerdotisa, usando um modelo de vestido parecido com o que usa sempre. A diferença principal eram os detalhes negros e um enorme dragão bordado.
–... ... O que houve? Por que me olhas desse jeito?
– Não sei...
– Então já que não sabe, melhor ir se trocar também. E ela aponta um aposento. Entrando no lugar o aprendiz encontra roupas semelhantes às suas, porém negras e com detalhes dourados. E um dragão em uma das mangas. Saindo dos aposentos, ele pergunta:
– como estou?
– Extraordinariamente comum... Para um acompanhante.
– Pareço um acompanhante?
– Parece uma gueixa.
– Ou algo do tipo... Após uma reverência à Lilith, Raitun invoca uma raposa do tamanho de Kitsu. Só o fato interessante é que esta usava uma armadura. Era uma armadura negra que cobria a cabeça e as costas, como uma sela para duas pessoas. E na armadura havia suportes para as armas. Espadas à esquerda, o arco à direita, e vem após os preparativos uma pergunta.
– Vamos? A sacerdotisa responde sentando na raposa, na parte de trás e de lado. Como uma dama de vestido senta em um cavalo sendo levada por um cavaleiro. Após uma cruzada de pernas e um aceno para o aprendiz, este também sobe na raposa. Agora eles caminham enquanto começam o que podemos realmente chamar de uma longa e boa conversa... Informações confidenciais, sorrisos confidentes.
– Estamos chegando... Não vá me decepcionar heim, acompanhante ou algo do tipo de uma gueixa.

–Como desejar, minha Lady. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulos 9 e 10

Capítulo 9 – A marca da foice


– Cumulus Nimbus... Tenko Kitsune-bi...
– Finalmente acordou, comenta Mary Anne acolhendo a raposa no colo.
– Entrei em seus domínios?
– Está dentro do templo. Não poderia lhe deixar jogado na floresta debaixo daquela chuva. Lilith me mataria quando soubesse. “E ela não está em condições de ficar se estressando com isso” Pensou ainda.
– Detalhes.
– Ainda não posso... Aliás, você também não pode. Não pode desistir de seu caminho agora.
– Quando a presença de Hatsumomo se foi senti a presença de alguém importante tomando o mesmo rumo. Preciso voltar verificar, ajudar aquela pessoa.
– Alguém está precisando muito da sua ajuda, e está bem a sua frente.
– Quem seria?
– Lilith.
– Detalhes. O garoto toma a forma de garoto e se senta, ainda mantendo as orelhas de raposa.
– Em alguma das lutas com Hatsumomo Lilith foi ferida por aquela foice. Não foi uma ferida comum, aquela foice não era comum, e estava pior do que já era antes. Do ferimento brotou um mal antigo, uma magia negra chamada shi no shirushi.
– Shi no shirushi?
– Sim. “Marca da morte”. Essa marca é como uma doença, se ela crescer e se completar, Lilith morrerá. O que precisamos, o que você precisa é descobrir junto com Alexis a cura ou o contra feitiço, ou algo que a salve. Você parte amanhã ao nascer do sol. É perigoso à noite com os Luminus se infiltrando no reino.
– Vou agora. Raposas têm boa visão.
– Tome cuidado. Cautela, porém urgência. Como você sabe, o rio em meus domínios é o lugar onde se lamenta pelos mortos. Se não houver acordo com a morte, acabaremos tendo mais alguém por quem lamentar... Meus domínios não são regidos pela alegria, por isso você quem precisa fazer isso por ela.
– Explique-se.
–Vá.
–“Lamentar os mortos”... – O aprendiz faz um gesto com a mão, invocando Kitsu.
– Ora, você não era uma raposa independente? Diz a raposa ao aparecer
– Se você já está ciente dos fatos, e sei que está, sabe que não deveria estar arrumando pretexto pra discutir.
O aprendiz se dirige ao Nefirus, onde para, se ajoelha e lamenta por alguns momentos a morte de Hatsumomo. Pede que Lilith não tenha o mesmo destino. Não agora. Acaba até ganhando certa atenção dos celtamorfos com a oração fervorosa. Além disso, consegue uma breve conversa com Ácades, o celtamorfo que lhe aconselhara outrora em sua primeira visita ao local. O conselho dado dessa vez foi “Mantenha seu caminho sem se importar com nada, mantenha sua escolha sem se importar qual é.”. Depois da parada no rio os dois partem em direção ao templo do norte. Lá as respostas das perguntas não são tão animadoras quanto ele esperava.

Capitulo 10 – Conselhos da Matriarca


– A única coisa que purificaria algo poderoso como aquilo seria uma pena da cauda de uma fênix. E há muito, muito tempo elas sumiram. Além de que demora muito tempo para preparar uma pena de fênix adequadamente. Infelizmente, minhas mãos estão atadas. Mas não as suas: tenho uma missão especial para te dar. Amanhã, mais ou menos a essa hora estaremos em um grande festival que acontece em Midgard. Quando estivermos lá você irá entretê-la como se o imperador fosse seu vassalo. Sua sacerdotisa está com a morte marcada, mas você dará a ela uma morte digna e feliz. Por agora, descanse aqui. Amanhã você irá ajudar a Louise com os preparativos do festival.
Ouviu as ordens da elfa, depois resolveu sair do templo e dirigir-se para a floresta. A floresta das Willow. Anda um pouco por ali, e acaba se deparando com a majestosa e enorme Yggdrasil. Após uma breve prece ele continua andando por entre as árvores, e em frente à maior delas faz uma nova parada ao escutar uma voz densa que ecoa por ali. Vinha da maior Willow da floresta, a que estava diante de seus olhos. Seria uma árvore comum, se não fosse pelo porte e por vários galhos que se mexiam como se tivessem vida e mobilidade de dedos. E por certa parte do tronco lembrar um rosto. Novamente o som da gigantesca árvore ecoa quebrando a contemplação do garoto.
– Olá filhote. O que você veio procurar por aqui?
– Paz... Conselho... Algo. Não sei. Perdão por estar andando por aqui repentinamente e não ter me apresentado, e peço perdão novamente por não saber quem é você.
– Me chame de Tatsuy. Sou a mais antiga das Willow.
–Então você seria algo como uma “vovó Willow?”
– Não me chame assim... Pareço uma velha desse jeito. Que tal um meio termo. Chame-me de Matriarca ou Tatsuy.
– São nomes interessantes. O primeiro é poderoso, o segundo é... Exótico.
– Como se você pudesse falar de nomes exóticos, tuntun. Então filhote, o que você realmente veio fazer diante de mim? Mergulhado em dúvidas?
– Não acho que seja exatamente isso Tatsuy.
– Que intimidade... Então, você veio me dizer que já decidiu o que vai fazer?
– Algo do tipo. Mais precisamente, vim lhe dizer o que eu decidi. Acho que acabei demorando mais que o devido pra me decidir. E que tudo acabou influindo nisso. Seria problemático escolher apenas uma. Pensei em retornar ao frio e á solidão. Continuei pensando, e me decidi. Não queria que alguém pensasse que era a “alternativa”. Acho que aos escolher, percebi que mesmo diante de milhares de alternativas, se a sua alma, sua personalidade e seu desejo não mudar, a escolha não irá mudar. Não quero mudar a mim mesmo, nem o que escolhi. Ela foi quem eu escolhi.
– Então seria por que “a tempestade faz um enorme estrado, uma tempestade com uma nevasca faz um estrago infinitamente maior”?
– Diria que é algo do tipo. É ótimo fazer grandes estragos.
– É verdade. A tempestade não depende da chuva para ser tempestade. Ela provoca a chuva. Vire uma nevasca, não vá contra a natureza dizer que depende da chuva.
– Agradeço pelos conselhos Matriarca Tatsuy. Algo a mais pra me dizer?
– Ah, sim! Você vai entretê-la, não é? A sacerdotisa da neve?
– Correto. Alguma recomendação em relação a isso?
– Atenção total a ela. E cuidado redobrado. Sinto que a calmaria está para acabar. Se estiver certo de sua escolha, conte a ela.
– Pensarei nisso com cuidado...
– Descanse agora filhote. Amanhã grandes coisas vão acontecer. O vento está me contando.
– Agradeço novamente, grande matriarca. Agora vou olhar o teto, espelho que reflete meus devaneios, até o que o sono tome conta de meu ser.

– Vá em paz, com a benção de Lilith, diz a grande Willow ao aprendiz. Este se retira da presença da matriarca e vai se deitar no chão do templo. Acha algo como um colchonete ao lado, chamado no Japão de futon. Era de se esperar, considerando toda a fachada do lugar. Talvez seja apenas um colchonete devido às religiões de lá pregarem certo apego ao materialismo. O garoto pensou nessa questão, e em muitas outras. Acabou pensando que ainda estava acordado, mas já estava dormindo.  Estava há momentos atrás olhando o teto, que de certa forma sempre lhe parece um espelho, sempre mostra um resumo do que aconteceu. As visões da sacerdotisa se mostravam mais nítidas. Porém agora ele finalmente dormiu. Do nada, assim como qualquer um.

domingo, 4 de maio de 2014

Às vezes eu releio umas reflexões que escrevi no meio do livro e simplesmente me pego pensando. "Como eu escrevi tudo isso há 3, 4 anos atrás e agora vivo empacado?". Acho que eu preciso voltar a acreditar nas minhas raposas. As memórias de um aprendiz sempre podem ser revividas graças à cada um que as lê. Fico feliz que seja você quem as reviva nesse momento. Não é que elas se tornem reais. Elas sempre foram, mas você as faz se relembrarem disso. Até o próximo capítulo!

Projeto - Parte 2, Capítulos 7 e 8



Capítulo 7 – Punição dupla


O aprendiz paralisa diante das palavras da sacerdotisa, e Hitch toma a palavra.
– Ela estava premeditando isso há muito tempo, e você sabe. Só não sabíamos que alguém de seu nível seria pega tão rapidamente por uma armadilha óbvia como essa.
– Dane-se, sua meretriz. Ceifarei suas almas, e a liberdade virá.
– Infelizmente, o quadro ainda é pior, diz Yumi aparecendo em frente ao quarteto (as gêmeas sumiram quando atingidas pela magia)
– Se não tens algo mais belo que o silencio a dizer, cale-se, retruca Raitun.
– Não é belo o que tenho a dizer. Além de tentar lhe matar várias vezes, e tentar fazer o mesmo com pessoas do reino, ela traiu o nosso reino servindo de espiã para os Luminus. Levava informações de nossas tropas e afins.
– E a punição para seus crimes...
– É a morte.
O aprendiz se dirige á porta, em forma de raposa.
–Não concordo com a morte dela, ou com mortes de pessoas próximas, aliadas ou outra qualquer. Algumas delas acontecem, outras são “necessárias”... Não concordo, porém um mero aprendiz não pode fazer nada contra as leis de seu reino. Muito menos contra as de um reino do qual não é filho. Que seja feita a sua lei. Não posso me meter nisso... Não me cabe o direito... Ainda não. Após essas palavras ele sai correndo em forma de raposa.
– Maldita sejais tu, substituta, por profanar locais sagrados e trair nosso reino de tal forma. De si, que os deuses tenham misericórdia. Que a luz a acompanhe até a morada de seus ancestrais nessa despedida, é o que Lilith diz.
– Infelizmente o arrependimento virá Lilith, e a marca feita em ti te levará junto comigo.
– Belas palavras, belas e equivocadas. Estas aqui serão as últimas. –ela aponta a Kaleido para o rosto de Hatsumomo – Dai Bakuhatsu.
A maga desintegra o corpo da substituta com essas palavras. Substituta que seria agora conhecida como traidora caso essa informação vazasse. A essa altura o aprendiz estava longe, decerto pensando no ocorrido. Paralisa novamente. Sente que uma aura está se esvaindo diante de seus sentidos, como se alguém importante que estivesse lhe tocando estivesse se afastando e se desfazendo, se despedindo naquele exato momento, lento e duradouro, que se estende até a eternidade. Tudo aquilo e a corrente de pensamentos que toma conta de seu ser começa a escorrer sobre ele como as gotas da chuva que começa a cair. Lentamente, lentamente, mais fortes, mais rapidamente, agora várias e várias. Uma chuva torrencial. São gotas profundas, penetram nas mais profundas profundezas da terra, e mais profunda parece ser a dor da raposa, e ainda mais profunda parece estar a localização da alma da Hatsumomo. O tempo passa, sabe-se lá quanto. Ora, pra que noção de tempo? Aos poucos começa a se mover, lenta e cabisbaixa raposa. O que se passa em sua sábia cabeça, só ela poderia nos dizer. Ou melhor, só ela que não pode nos dizer. Não agora, não daqui a dois dias. Não até que apagasse de dor e cansaço mental, físico, metafísico, espiritual. A raposa em sua aura de melancolia adentra na floresta negra, envolta em flashbacks e instantes de relembrar momentos. Alguns deles ocorridos ali mesmo. Outros em sua terra natal. Todos essencialmente importantes para tê-lo feito chegar ao seu atual estágio de angústia. Todos sem importância nenhuma diante daquilo que tomou conta de seu coração. O luto se materializa como um fardo pesado para ele, e mesmo assim a raposa apenas caminha, caminha, e caminha, e caminha, e é finalmente vencida, após toda a resistência. Estava em desvantagem numérica contra angústias, lembrança antiga, sentimentos, cansaço. Quem vem em seu socorro nos momentos de total perdição é parte de si mesmo. Só assim a “salvação da imersão em melancolia” pode ser efetiva. As gêmeas katanas, unidas na guerreira semelhante a seu mestre chamam pelo seu nome. Inicia-se dessa maneira um diálogo a quatro em seu mundo espiritual, o mundo das tempestades agora completamente tomado por uma chuva de dor e tristeza.

Capítulo 8 – Outra história


– “O que querem de mim? Vocês já sabem o que está acontecendo...”
– “Queremos o seu poder.”– responde a guerreira de katana dupla. Voz dupla também ela tinha, e com voz dupla continua. “Graças a seu poder, eu e aquela raposa branca existimos. Não queremos morrer, assim como qualquer ser vivente. Queremos seu poder, o de nos dar vida.”
–“Seu coração tomado pala tristeza acabará apagando a nossa existência, essa chuva acabará varrendo de seu interior a nossa existência!” Era a raposa continuando.
–“A chuva, que nunca deixa de me lembrar uma pessoa...”
–“Mestre... A Hatsumomo se foi, nem mesmo a mais poderosa das criaturas desse lugar pode restaurar uma vida perdida” Dizem as katanas
– “Não... não era ela, não era exatamente ela... era algo que eu pensaria muito antes de contar até a mim mesmo.”
– “Ora filhote, nós somos você. Em parte... nossos contratos feitos... comigo, um selo de minha vontade própria, com elas, um pacto. Nos dois casos, união e submissão a você.”
–“Sábias raposas e entidades... com as colossais capacidades de argumentação. A Hatsumomo era como a chuva... por isso me lembrava alguém. Alguém que foi importante na minha vida. Vivi por muito tempo no escuro e na ignorância, no frio, na solidão. E essa pessoa apareceu e me tirou disso, era alguém que mantinha longe do frio da solidão, e desta última propriamente dita. E o que verdadeiramente se chama solidão aparece na ausência de amor, foi o que ela ensinou. Mas ela, aquela pessoa me manteve longe disso. A pessoa que por momentos me deixou de forma aconchegante em seus ombros. Quando ela fazia isso apagava toda angústia, tristeza, cansaço ou ansiedade que residia em mim. A pessoa que algum tempo depois não me recebeu mais em seus braços, nunca mais me iluminou com um sorriso, nunca mais me fez entender inúmeras palavras com um simples olhar, nunca mais me guiou puxando-me pelo pulso... nunca... Fiquei feliz mesmo assim, mesmo com a distância tornando isso tão triste e drástico. Antes de ir ela me ensinou outra coisa. Mais vale a ausência sincera do que a presença falsa e incompleta. E após me ensinar aquilo... reticências. Tentei ler aquelas reticências, aqueles olhos eram vagos por natureza, ela foi o maior mistério que eu tive em mãos. Costumo dizer que as personalidades parecem enigmas. E quanto mais deciframos o enigma de alguém, mais sabemos da personalidade daquele alguém. As existências ficam nesse eterno jogo, liberando partes de seus enigmas propositadamente, escondendo outras para que não sejam vistos por certas pessoas. É certo que não dá pra decifrar totalmente a outra pessoa, mas eu sempre gostei de ver o máximo que conseguia. E apesar de tudo, apesar dela dizer “até que você me entende”, ela foi o enigma mais complexo que eu tive pra decifrar. E antes que ela me acolhesse mais uma vez, se foi. E assim até a chama eterna da esperança perdeu forças e apagou.”
–“Você só se preocupa com os problemas dos outros. Se você arrumar só a vida dos outros, quem vai arrumar a sua vida? A solidão não provém da falta de companhia, ela nasce da falta de amor, assim como ela ensinou. A sua “pessoa importante”... por isso chove nesse mundo, e nós sentimos frio, assim como você, filhote. ”Responde a raposa gigante, acolhendo a pequena raposa entre as patas.
–“Raitun... Raitun! A sua voz é a que alcançou as nossas almas. Ela que nos uniu e nos aconchegou... deu-nos um ombro para nos sustentarmos. Por isso queremos ouvir novamente sua voz. Sempre. Não somos muito fãs da chuva, não neste mundo. Neste mundo também chove. Quando você enfrenta problemas, quando está com a calma tomada pela melancolia, o céu aqui se fecha e começa uma chuva que nós odiamos. Odiamos essa chuva, e temos medo de nos molhar nessa chuva, nesse mundo solitário. Queremos parar essa chuva, e vamos emprestar a você todo o poder que precisas, mostraremos a você o quão poderoso é a perfeição em forma de aprendiz. Vamos nos acolher uns nos ombros dos outros, e cooperar, e não deixar o outro com frio. Você compreende o pavor que tenho dessa chuva? Não queremos mais que chova aqui, queremos apenas nossos ventos assustadores e tempestuosos. Se você acredita em mim, digo-lhe que não deixar um pingo de chuva nesse mundo. Se chamar os nossos nomes, atenderemos ao seu chamado, até destroçar nosso inimigo! Acredite em nós, mestre. Você não é o único que está lutando para arrumar os problemas dos outros, e seus próprios problemas. O poder de acreditar é seu.”
–“Acredite em nós, e reacenda o fogo da raposa. Acredite que não é o único que luta para arrumar problemas alheios, e seus próprios problemas. Você tem o poder de acreditar.”

sábado, 3 de maio de 2014

Projeto - Parte 2, Capítulos 5 e 6



Capítulo 5 – Muito sugestivo


Raitun passa o braço pela cintura da sacerdotisa, abraçando a firmemente por trás. A mão livre encontra a mão da elfa que segura o arco com facilidade, e enquanto o resto do grupo distrai o dragão, eles reiniciam a conversa.
– “Posição sugestiva, não é?” Comenta Lilith
– “Deve ser exatamente isso que os outros estão pensando. Quase posso ouvi-los pensando isso. Perdoe-me pela insolência, mas na resisti á oportunidade”.
– “Isso quer dizer que além de tudo está tentando me seduzir?”
– “Temo dizer que é o contrário, Grande Lilith.”
– “Com quem aprendeu tanto?”
– “Com a melhor. Ela é tão boa que talvez me ensine como se mate dragões."
– “Ah, vai sim. E com todo o prazer, coisa fofa.”
O casal abraçado toma posição e uma flecha de luz toma forma no arco. Mas não era mais apenas uma flecha de luz como as que Lilith costuma usar. Adicionando seus poderes ao poder do aprendiz o mana em volta dos dois toma forma, e sua aura combinada tem uma presença tão poderosa quanto à do dragão. O mana dos dois tomou literalmente forma. Diria que posso descrever como um gigantesco arqueiro alado feito de pura mana, com duas asas gigantescas. Não era como uma entidade invocada, e ao mesmo tempo era como uma. Rodeava o casal, como se eles tivessem tomado a forma daquele arqueiro. A entidade materializa um arco de seu tamanho, muito parecido com o da sacerdotisa, e enquanto este começa a reunir mais mana usando o mesmo processo de Lilith para fazer flechas os outros continuar a atacar e distrair o dragão. Porém diante da ameaça do arqueiro o dragão volta atenção para os dois que estão invocando algo tão poderoso quando ele. Ele tenta atacá-los várias vezes, e os golpes são defendidos pelo grupo, mas um dos golpes acaba atravessando a defesa, e uma rajada de fogo é lançada sobre os dois, sem surtir efeito, a entidade envolta de mana maciça os protege e não sofre danos. Após receber o ataque a entidade contra ataca com uma flecha, que encontra no caminho uma rajada de mana vinda da boca do dragão. A flecha atravessa isso facilmente e destrói uma das seis asas do demônio em forma de dragão. Com um tiro na cabeça e um último no coração o grotesco dragão é derrubado, e partes de seu corpo começam a se desfazer, até que ele suma por completo. A entidade faz o mesmo, dela sobra apenas o original Mihawk, que se encontra na mão de Lilith, que se encontra deitada por cima do aprendiz, que no momento foi encontrado deitado na grama (com a sacerdotisa ainda em cima dele), exaustos por terem usado muito mana.
– Estão melhores do que eu esperava... O uso de poder espiritual causa cansaço físico, e é preciso uma enorme resistência física para aguentar uma grande quantidade de poder e aumentar a duração de uso desse poder. – é o que Yumi comenta.
– É verdade, concordo... O que aconteceu?
– Não consegue se lembrar ou não entendeu o que acaba de acontecer? Perguntou Hanna
–...
– Deixe-me ver como posso explicar-lhe de forma convincente. Ela pediu seus poderes, correto?
– Não, eu os ofereci.
– Dá quase no mesmo.
– Há uma diferença colossal entre um e outro.
– Ora, por que você não a deixa continuar? Interrompe Yumi.
– É coisa fofa... Deixe-a continuar... Sussurrou Lilith, fechando os olhos e se aconchegando em cima do aprendiz.
Hanna retomando o assunto: – Então você OFERECEU os seus poderes para que ela pudesse derrotar Ayenth. Ela aceitou e em vez de repetir o ataque usado no primeiro dragão, inteligentemente fez uso de algo mais poderoso: Ancient mana. Magia poderosa e antiga de nossos ancestrais.
– Um dos anjos usa o poder dos dois, e estes se convertem em um único, proporcionando a vitória dos dois, completa Yumi.
– Interessante. Mais interessante seria obter mais detalhes sobre isso. Correto?
– Correto... Mas... Me leve para casa... – sussurra de novo (Lilith)
– Vamos... – Diz o aprendiz, levantando se e pondo a sacerdotisa nos braços.
– Enquanto você a carrega, eu vou cobrar nossa aposta, diz a raposa antes de sumir.
– Então, acho que esta é minha deixa, diz a musicista guardando seu instrumento. Espero que as boas melodias o acompanhem e sejam levadas junto com os ventos que correm para você. E que a brisa traga as notas certas.
– Isso é um enigma junto de uma despedida para na mais voltar?
– Informação confidencial.
A garota se põe a caminho, a musicista e seu instrumento juntos em um saem em busca de novas melodias.
– Nos veremos novamente, Srta de seios volumosos...
– Eu quebraria cada osso seu em sete lugares se ainda me restasse energia.
– Então, recupera-te e faça isto.

Capítulo 6 – Aquela história continua


Yumi pensou em chamar a sacerdotisa Alexis, porém antes de fazê-lo olha novamente para Raitun e Lilith, e tem algo a ideia fixa na mente de deixá-los a sós. Também é interessante para o aprendiz treinar suas habilidades de cura. A arquiduquesa resolve chamar a Srta. Hitch e em breves sinais e palavras lhe dar uma mensagem. Ela pretendia manter os olhos no casal e para tal envia Hitch com os olhos neles e magia em volta dos três. Enquanto o aprendiz está em forma de raposa e Lilith está em suas costas, deitada, abraçada em seu pescoço, a maga faz seus preparativos. Eram uma poção de invisibilidade mostrada anteriormente ao aprendiz e uma pequena mochila (logicamente como era algo como uma “missão de espionagem” ela faz o possível para não ser percebida, talvez não com sucesso e eles a tivessem ignorado) onde guarda alguns frascos vazios.
A partir desses momentos avançamos um pouco o tempo, após uma conversa sussurrante entre os dois no caminho, a sacerdotisa está sendo curada de seus ferimentos pelo aprendiz. Um clone do aprendiz, melhor dizendo. Lilith se posiciona de forma que Raitun possa ser acolhido em seu colo. Relativamente bem, ela própria puxa assunto.
– Parabéns por ter ganhado a aposta.
– Graças a sua ajuda.
– Nada disso. Graças aos seus poderes, seu suprimento espiritual interminável... Que fôlego garoto!
– Graças à cooperação de todo o grupo, conseguimos purificar o mal contigo naquela criatura, correto sacerdotisa-san?
– Correto, coisa fofa plagiadora de frases enormes que falam de coisas santas.
– E é preciso algo desse tamanho para ficar me definindo?
– Quer apenas uma palavra?
–Quero.
–Chato.
–Menos.
–Desajuizado.
– Não?!
– Estranho?
–Talvez...
– Obscuro.
– Relativamente.
– Misterioso!
– Sim!
– Não.
– Qual?
– Anormal.
– Perfeito. Um ataque de riso conta dos dois no momento.
– Lembra da história?
– Aquela cheia de coisas místicas e deuses, e algo do tipo?
– “Exato.”
A garota interrompe a leitura do ancião, dizendo: “Para realmente entender o agora, é preciso rever o que se passou”. Então foi por isso que ela resolveu contar a tal história para o aprendiz.
– Exatamente. Ainda lembra-se da história do começo de tudo?
– Lembro, lembro muito bem.
– Então podemos continuar pulando a história que está na história?
–Podemos sim, assim economizamos tempo.
–Onde ela continua... – diz ele folheando o livro, até apontar algo em uma página. Aqui, em “o incansável trio se rende ao cansaço...”... “caindo assim os três em um sono tranquilo e profundo...”.
Em meio a sonhos e devaneios que levam ao delírio profundo, em meio às sombras, uma foice negra se prepara para ceifar a alma do aprendiz. A morte dessa vez foi falha, e falha miseravelmente. Aprendizes dormem, elfas dormem, mas entidades não dormem. As irmãs katanas aparam o golpe, e enquanto se materializam a sacerdotisa desperta e aponta o arco para a pessoa encapuzada que tentou tirar a vida do garoto. Rapidamente ela nota os detalhes da foice.
– Essa foice... Você é realm-
– Desarme! Diz a Srta Hitch, saindo de seu “esconderijo”. Como as katanas, a foice e o arco estavam praticamente disputando o mesmo espaço, as quatro armas são lançadas para longe. A única que se mantém no lugar é a varinha da maga. A esta altura, já estava imobilizando a invasora com magia.
O aprendiz levanta-se do colo da sacerdotisa e se espreguiça (e a sacerdotisa por algum motivo tapa os olhos com as mãos durante esse momento) e indaga ao invasor:
– Ora Amy... Há quanto tempo. É um costume seu visitar regularmente os forasteiros?
– É um costume teu nunca me acordar cedo? Quase perdi a parte divertida da festa, interrompe Hitch.
–Não lhe desperta algo essa minha comum situação? Nenhuma lembrança?
– Ah, muitas... Inesquecíveis, afinal, a chuva me lembra uma pessoa.
– Como a tempestade descobriu minha presença em meio a tal desordem? Alguma habilidade especial de perceber auras mesmo que elas estejam escondidas?
– Não... Algo infinitamente simples: reconheci-te pelo cheiro. Lembro-me fielmente dos cheios de pessoas importantes... Impossível confundir um com outro, diz ele franzindo o nariz.
– Agora você tem algo a mais para lembrar-se dela. Mais uma vez, ela tentou lhe matar. Na nossa frente, como fator agravante.
...
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